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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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TRANSPORTE

Ex-diretor do sindicato dos motoristas diz ter recebido R$ 3.000 de viação; categoria planeja protestos contra demissões

Sindicalista confirma "ajuda" de patrão

DA REPORTAGEM LOCAL

Um ex-diretor do sindicato dos motoristas de ônibus de São Paulo admitiu ontem, em depoimento no Ministério Público Estadual, ter recebido R$ 3.000 como "ajuda de custo", em agosto de 2002, da viação Cidade Tiradentes, mas não soube explicar por qual motivo e com quais interesses a empresa teria dado essa quantia a ele e a mais dois sindicalistas. Os três são funcionários da empresa.
José Octaviano de Albuquerque foi ouvido por promotores que investigam a ligação de patrões e empregados do setor de transporte urbano e a existência de locautes -greves de trabalhadores incentivadas por empresários.
No depoimento, Albuquerque disse não saber de um possível esquema entre a direção do sindicato dos motoristas e os empresários de ônibus, conforme denúncias recebidas pela Promotoria. Relatou, entretanto, fatos que considerou "estranhos". Albuquerque foi expulso da diretoria depois de ter feito uma greve na Cidade Tiradentes sem a autorização do presidente do sindicato, Edivaldo Santiago da Silva.
Ele afirmou que Silva "conversava muito por telefone" com os diretores da viação e que, "estranhamente", pediu que ele não fizesse uma paralisação da categoria na garagem, apesar do atraso na entrega dos vales-refeição.
Sobre a ajuda de custo de R$ 3.000, disse que ela fora estipulada pela empresa em julho do ano passado. Ele chegou a recebê-la em 8 de agosto, quando a Cidade Tiradentes estava, havia dois dias, sob intervenção da SPTrans (empresa municipal que cuida do setor). Em seguida, ela foi suspensa.
Segundo Albuquerque, José Domingos da Silva e Antonio Ferreira Mendes, também diretores do sindicato, disseram a ele ter recebido os mesmos R$ 3.000. Eles não foram localizados pelo Ministério Público. No mesmo mês, os demais empregados da viação receberam valores superiores aos salários -mas não iguais aos da "ajuda de custo".
Albuquerque disse ter um imóvel em Minas, uma casa herdada da mãe e um veículo Chevrolet S-10. Seus rendimentos mensais atingiam R$ 3.000 (entre salário no sindicato, na viação e aposentadoria, sem contar a "ajuda de custo"), mas ele afirmou nunca ter declarado imposto de renda.
O presidente do sindicato, que também depôs ontem, negou ligação da entidade com os patrões e disse manter contato com eles apenas para as reivindicações.

Protesto
O sindicato dos motoristas fará uma assembléia hoje para definir uma série de protestos a partir de amanhã, por causa das divergências sobre a situação de 10.800 trabalhadores de nove viações que foram descredenciadas pela prefeitura. Segundo Silva, a categoria pode fazer caminhadas e até liberar a passagem nas catracas.
O prazo dado pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) para que houvesse um acordo entre empresas, empregados e prefeitura acaba hoje. O secretário Jilmar Tatto (Transportes) disse ontem que as viações aceitaram admitir 3.800 deles e colocar mais 867 ônibus nas ruas. Cadastramento feito pela SPTrans para reunir os interessados em trabalhar nas demais viações do sistema teve a adesão de 7.200 dos 10.800 condutores.
O TRT responsabilizou a prefeitura pela dívida trabalhista deles, avaliada em R$ 70 milhões. O governo, porém, recorreu da decisão e negocia para que os condutores sejam readmitidos antes de uma decisão final sobre quem vai pagar esse montante.


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