São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2001

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SAÚDE

Com dinheiro privado, Unifesp terá ala de urologia com tecnologia de ponta e atendimento humanizado para pacientes do SUS

Hospital público tem serviço de 1º Mundo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova unidade de urologia do Hospital São Paulo, a ser inaugurada na próxima segunda-feira, tem o mais moderno bisturi elétrico, o mais preciso aparelho de microcirurgia, a última novidade em cama cirúrgica e um robô que atende a um comando de voz. Só a Alemanha e os EUA têm igual.
Os estudantes vão poder acompanhar cirurgias no "teatro de telemedicina" e a "arena" de operações (a sala cirúrgica) vai dividir as imagens com centros universitários do Brasil e do exterior.
A novidade maior, no entanto, está na humanização do tratamento, todo ele reservado a pacientes do SUS. Há desde cuidados simples como armários nas enfermarias (antes os doentes deixavam as sacolas debaixo da cama) até um botão que aciona um monitor na sala de enfermagem. Pelas imagens e um comando de voz, os profissionais sabem o que está acontecendo. Na cama, a placa indicará o nome do paciente, não mais um número.
"O doente será chamado pelo nome", diz o professor Miguel Srougi, titular de urologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O Hospital São Paulo, com 750 leitos, é o hospital-escola da Unifesp. E Srougi é o idealizador dessa ala que inaugura uma nova forma de empreendimento, a participação da iniciativa privada. Os R$ 3 milhões gastos nas instalações foram doados por 36 empresários todos pacientes do próprio Srougi.
"O hospital recebe R$ 8 a 9 milhões por mês do SUS e gasta R$ 10,5 milhões", diz o professor. "Não atende convênios e não recebe verbas suplementares da União. Vive num mar de dívidas com fornecedores."
A atual ala de urologia tem 15 leitos e faz cerca de 70 cirurgias por mês. No ano passado, havia 520 doentes na fila de espera, cem deles com câncer esperando uma cirurgia, "uma desumanidade", diz o professor. A nova ala, com o mesmo número de leitos, triplicará o número de cirurgias e acabará com as filas, ele prevê.
Os doentes, acostumados a filas e à precariedade do serviço público, certamente não terão noção de que estão sendo atendidos com recursos só disponíveis nos melhores hospitais do mundo.
Os estudantes e residentes das várias escolas médicas da Unifesp sabem que estão sendo privilegiados. "A universidade precisava recuperar a modernidade e a dianteira que competem a ela", diz Srougi. Estudantes aprendiam anestesia em equipamentos de três décadas atrás.
"O novo equipamento, o Cícero EM, é capaz de anestesiar um bebê de 300 gramas", afirma o professor José Cury, chefe da clínica urológica da Unifesp.

Cenário de ficção
Na mesma sala cirúrgica, um "laser de Holmium" é capaz de quebrar qualquer tipo de cálculo do trato urinário, tratar tumores da bexiga e realizar cirurgias da próstata. Custou US$ 60 mil.
O robô, o "Aesop", uma peça com um braço negro, atende a 300 comandos de voz e é capaz de segurar uma câmera imóvel durante sete horas no interior do abdômen do paciente. Ou realizar uma delicada punção no rim. Todos os equipamentos pendem do teto, lembrando um cenário de ficção, e as camas pós-operatórias parecem veículos lunares. "Ganhamos espaço, tempo e segurança", diz Srougi.
Se cada equipamento precisasse passar pelo ritual das licitações públicas, a importação levaria anos. Toda a instalação da nova ala, que ocupa a antiga lavanderia do hospital, consumiu quatro meses e estourou os prazos.
Sem amarras, a equipe pôde contratar uma arquiteta hospitalar -Claudia Bella Mraz- que junto com médicos desenhou e projetou a ala. O resultado final são enfermarias com pisos que impedem escorregões, banheiros com barras de apoio, corredores de granito e paredes recobertas por fórmica e protetores que evitam choques com as macas.



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