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SAÚDE
Com dinheiro privado, Unifesp terá ala de urologia com tecnologia de ponta e atendimento humanizado para pacientes do SUS
Hospital público tem serviço de 1º Mundo
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova unidade de urologia do
Hospital São Paulo, a ser inaugurada na próxima segunda-feira,
tem o mais moderno bisturi elétrico, o mais preciso aparelho de
microcirurgia, a última novidade
em cama cirúrgica e um robô que
atende a um comando de voz. Só
a Alemanha e os EUA têm igual.
Os estudantes vão poder acompanhar cirurgias no "teatro de telemedicina" e a "arena" de operações (a sala cirúrgica) vai dividir
as imagens com centros universitários do Brasil e do exterior.
A novidade maior, no entanto,
está na humanização do tratamento, todo ele reservado a pacientes do SUS. Há desde cuidados simples como armários nas
enfermarias (antes os doentes
deixavam as sacolas debaixo da
cama) até um botão que aciona
um monitor na sala de enfermagem. Pelas imagens e um comando de voz, os profissionais sabem
o que está acontecendo. Na cama,
a placa indicará o nome do paciente, não mais um número.
"O doente será chamado pelo
nome", diz o professor Miguel
Srougi, titular de urologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp). O Hospital São Paulo,
com 750 leitos, é o hospital-escola
da Unifesp. E Srougi é o idealizador dessa ala que inaugura uma
nova forma de empreendimento,
a participação da iniciativa privada. Os R$ 3 milhões gastos nas
instalações foram doados por 36
empresários todos pacientes do
próprio Srougi.
"O hospital recebe R$ 8 a 9 milhões por mês do SUS e gasta R$
10,5 milhões", diz o professor.
"Não atende convênios e não recebe verbas suplementares da
União. Vive num mar de dívidas
com fornecedores."
A atual ala de urologia tem 15
leitos e faz cerca de 70 cirurgias
por mês. No ano passado, havia
520 doentes na fila de espera, cem
deles com câncer esperando uma
cirurgia, "uma desumanidade",
diz o professor. A nova ala, com o
mesmo número de leitos, triplicará o número de cirurgias e acabará com as filas, ele prevê.
Os doentes, acostumados a filas
e à precariedade do serviço público, certamente não terão noção de
que estão sendo atendidos com
recursos só disponíveis nos melhores hospitais do mundo.
Os estudantes e residentes das
várias escolas médicas da Unifesp
sabem que estão sendo privilegiados. "A universidade precisava
recuperar a modernidade e a
dianteira que competem a ela",
diz Srougi. Estudantes aprendiam
anestesia em equipamentos de
três décadas atrás.
"O novo equipamento, o Cícero
EM, é capaz de anestesiar um bebê de 300 gramas", afirma o professor José Cury, chefe da clínica
urológica da Unifesp.
Cenário de ficção
Na mesma sala cirúrgica, um
"laser de Holmium" é capaz de
quebrar qualquer tipo de cálculo
do trato urinário, tratar tumores
da bexiga e realizar cirurgias da
próstata. Custou US$ 60 mil.
O robô, o "Aesop", uma peça
com um braço negro, atende a
300 comandos de voz e é capaz de
segurar uma câmera imóvel durante sete horas no interior do abdômen do paciente. Ou realizar
uma delicada punção no rim. Todos os equipamentos pendem do
teto, lembrando um cenário de
ficção, e as camas pós-operatórias
parecem veículos lunares. "Ganhamos espaço, tempo e segurança", diz Srougi.
Se cada equipamento precisasse
passar pelo ritual das licitações
públicas, a importação levaria
anos. Toda a instalação da nova
ala, que ocupa a antiga lavanderia
do hospital, consumiu quatro meses e estourou os prazos.
Sem amarras, a equipe pôde
contratar uma arquiteta hospitalar -Claudia Bella Mraz- que
junto com médicos desenhou e
projetou a ala. O resultado final
são enfermarias com pisos que
impedem escorregões, banheiros
com barras de apoio, corredores
de granito e paredes recobertas
por fórmica e protetores que evitam choques com as macas.
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