São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2001

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RESGATE

Explosão na casa de máquinas faz navio pesqueiro afundar e deixa tripulantes em uma balsa à deriva no mar

26 náufragos asiáticos chegam a Santos

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Depois de nove dias no mar em um bote inflável, com os suprimentos de água e comida esgotados e cercados por tubarões, 26 pescadores asiáticos foram resgatados e chegaram na noite de anteontem ao porto de Santos (SP) a bordo do navio cargueiro Nordscout (bandeira de Chipre).
Integrado por 22 chineses de Taiwan, três filipinos e pelo comandante japonês, o grupo compunha a tripulação do navio pesqueiro Ying Jen 168, de Taiwan, que se incendiou após explosão na casa de máquinas. A explosão causou a morte do operador taiwanês Soo Suikin.
Os outros embarcaram na balsa inflável de salvamento e ficaram à deriva no mar entre os últimos dias 7 e 15, quando foram resgatados por volta das 22h30 pelo Nordscout na direção do arquipélago de Fernando de Noronha.
Os asiáticos partiram do porto de Las Palmas (Espanha) para pescar em águas internacionais, segundo o comandante Yoshio Tokumasu, 53. Eles tinham duas escalas planejadas antes do retorno -uma no Brasil e outra na África do Sul. Não se sabe o local exato do naufrágio. Oito dias depois, a corrente marítima pode ter levado a balsa para muito longe.
O comandante do Nordscout, o polonês Artur Wieliczko, 47, mandou alterar o curso do navio depois que o marinheiro de vigia avistou um sinal luminoso à direita da proa. Como o radar não indicava a presença de outras embarcações nas proximidades e o rádio não recebia resposta aos chamados, ele concluiu que poderia se tratar de um naufrágio.
O cargueiro cipriota também havia partido da Espanha. Saiu do porto de Valencia para embarcar 54 mil toneladas de soja em Santos. Wieliczko afirmou que a balsa inflável onde estavam os náufragos estava cercada por tubarões. Muitos homens estavam nus na embarcação, que já estava murchando devido ao desgaste provocado pelo tempo e por frequentes choques contra os tubarões.
O comandante Tokumasu, que com o marinheiro filipino Romel Castillo, 24, prestou depoimento ontem à Polícia Federal em Santos, disse que quando o suprimento de barras de cereais e sacos plásticos com água que havia na balsa acabou eles passaram a coletar água da chuva e a pescar.
Segundo Tokumasu, nos dias de agonia no mar, uma baleia orca e dois barcos passaram próximos a eles. As embarcações foram embora, sem prestar socorro.
O japonês disse que em nenhum momento teve medo porque, segundo ele, um comandante não pode se desesperar.
O delegado Cássio Luís Guimarães Nogueira, chefe do Nepom (Núcleo Especial de Polícia Marítima), da Polícia Federal, disse que os 26 estrangeiros ficarão por alguns dias em um hotel em Santos, até que as representações diplomáticas providenciem o retorno para seus respectivos países.
Hoje, Nogueira vai colher os depoimentos dos outros 24 náufragos, que, até a tarde de ontem, permaneciam a bordo do Nordscout. Todos foram examinados na manhã de ontem por médicos da Saúde dos Portos, órgão federal, e estavam bem fisicamente.
"Vamos ter de inquirir a tripulação porque pode haver algum tipo de responsabilidade. Depois, iremos instaurar inquérito e remeter à Justiça Federal", disse.



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