São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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"Responsável" tenta converter amigos e família

DA REPORTAGEM LOCAL

Há algumas semanas, Eduardo Severino Mencarini, 25, recebeu amigos para jantar no apartamento em que mora, em Higienópolis (área nobre da região central de SP). A reunião foi um sucesso, mas, na hora de arrumar e limpar tudo, começaram as gozações. O motivo? "Eu ficava o tempo todo dizendo: "Não joga isso aí no lixo, não. Separa para a reciclagem". O pessoal acha engraçado", conta.
Os colegas e até o marido de Daniela Corrêa Simão, 28, têm reações semelhantes. "Eles acham estranho que eu vá a um supermercado específico só para comprar uma marca de pão de fôrma que tem um projeto social. Às vezes dizem até que sou chata."
De chata, Graça Martins Toledo, 55, já foi chamada algumas vezes, até pelos próprios filhos, quando eles eram adolescentes. "Estávamos na praia, e eu fui reclamar com o dono da barraca porque ele deixava o chuveiro pingando o dia inteiro. Perguntei se ele sabia quanta água desperdiçava. Depois tive de ouvir dos meninos: "Pô, mãe! Você tem de ficar dando sermão em todo mundo?"."
Os três exemplos mostram que nem sempre é fácil a vida do consumidor consciente, mas quem pertence a esse grupo afirma que não desiste e ainda consegue "converter" amigos e parentes. Tudo isso com a mesma justificativa: se cada um tomar certas atitudes que à primeira vista parecem pequenas e pontuais, o resultado da soma será uma mudança.
"Passei a almoçar sempre no Gendai [rede de restaurantes japoneses] porque eles trocaram os pratos e vasilhas descartáveis pelo retornáveis", diz Simão, que é publicitária.
"Consegui implantar a coleta seletiva no meu prédio e mandei cartas para todos os síndicos da minha rua sugerindo que fizessem o mesmo", diz Mencarini, que trabalha como pesquisador social em uma multinacional.
"Pelo menos consegui fazer meus filhos verem que economizar água não é uma chatice de mãe", afirma Toledo, que é médica em Salvador e se considera uma "cliente assídua" do Procon baiano. Nesse ponto, ela é uma exceção. A pesquisa do Akatu mostra que 81% dos entrevistados nunca recorreram a órgãos de defesa do consumidor. (MV)


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