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Prédios usam nomes em inglês que nem americano entende
Empreendimentos adaptam o idioma para tentar atrair
mais clientes para os lançamentos imobiliários de SP
Lavanderia, que deveria
ser "laundry room" no
inglês de verdade, foi
batizada de "wash
lounge" em condomínio
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO
Os dicionários bilíngues
não registram, os nativos não
entendem e quem vende
-ou quem compra- não sabe o que significa nem consegue pronunciar.
Depois de batizar prédios
em inglês -como Vanilla
House & Garden- o mercado
imobiliário criou um vocabulário próprio, uma derivação
de neologismo com estrangeirismo com termos que não
são de uso corrente nem nos
EUA, nem no Reino Unido.
Na lista de empréstimos
inspirados no anglicismo,
palavras que soam como inglês, são escritas como inglês, mas só têm o disfarce.
No prédio Choice, no Panamy (zona oeste), os apartamentos são "living spaces" e
o "wash lounge" tomou o lugar da lavanderia, que seria
"laundry" no inglês real.
"Garage band" não tem nada
a ver com o estacionamento.
É o estúdio de ensaio para
moradores que têm bandas.
Embora usado nos EUA
noutro sentido, "home office" -atração de boa parte
dos lançamentos- é de fazer
graça aos britânicos. Em Londres, é o departamento de
imigração, temido por dez
entre dez imigrantes.
Num terreno na rua Leopoldo Couto de Magalhães
(Itaim Bibi, zona oeste) onde
será construído um prédio
com apartamentos vendidos
a R$ 1,7 milhão, um painel de
cinco metros de largura define a obra: "walkmobility".
"É o conceito. Estamos no
espaço "prime" do Itaim", diz
o corretor José Kennedy. Como assim? "Estamos perto de
tudo no bairro", afirma.
Traduzido para o inglês, o
"walkmobility" que ele disse
seria "walking distance". Ou
simplesmente "a pé".
A poucas quadras dali, o
prédio This is It, vende "style
home", em vez de apartamentos -e oferece:
1) "dance hall" (salão de festas); 2) "smart control, stand
alone" (controle remoto para
luz e ar-condicionado); 3)
"fitness" (academia); 4) "drive range" (para jogar golfe);
5) "snooker bar" (sinuca); 6)
"babysitter" (babá) e 7) "personal line" (decorador).
"O "dance hall" vai ser o salão de festas, é tipo um pub.
Vai ter música, alegria", afirma a corretora Clara Lima.
PIADA
A Folha comparou projetos de São Paulo com prédios
equivalentes em Nova York e
Londres e enviou a lista a
dois corretores americanos.
Agora professor de inglês
em São Paulo, o corretor
americano Anthony Haas diz
se divertir ao folhear anúncios de imóveis e não entender de onde as construtoras
tiram esses neologismos.
"Se esses termos fossem
usados nos EUA seriam motivo de piada, não significam
nada em inglês", diz Haas.
""Wash lounge" é engraçado porque soa como um lugar para tomar banho, em
vez de lavar roupas", diz o
corretor Alex Cohen, da imobiliária Cushman & Wakefield, de Nova York.
"O erro mostra o artificialismo da transposição, o que
interessa é a sonoridade.
Querem dar valor ao que vendem", diz Luiz Tatit, professor de linguística da USP.
"Tem um dicionário para
eu ver a tradução de "half-pipe?'", pergunta a designer
Lia Sá. Ela procura, mas não
acha o que a construtora queria dizer: pista de skate.
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