São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Prédios usam nomes em inglês que nem americano entende

Empreendimentos adaptam o idioma para tentar atrair mais clientes para os lançamentos imobiliários de SP

Lavanderia, que deveria ser "laundry room" no inglês de verdade, foi batizada de "wash lounge" em condomínio


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO

Os dicionários bilíngues não registram, os nativos não entendem e quem vende -ou quem compra- não sabe o que significa nem consegue pronunciar.
Depois de batizar prédios em inglês -como Vanilla House & Garden- o mercado imobiliário criou um vocabulário próprio, uma derivação de neologismo com estrangeirismo com termos que não são de uso corrente nem nos EUA, nem no Reino Unido.
Na lista de empréstimos inspirados no anglicismo, palavras que soam como inglês, são escritas como inglês, mas só têm o disfarce.
No prédio Choice, no Panamy (zona oeste), os apartamentos são "living spaces" e o "wash lounge" tomou o lugar da lavanderia, que seria "laundry" no inglês real. "Garage band" não tem nada a ver com o estacionamento. É o estúdio de ensaio para moradores que têm bandas.
Embora usado nos EUA noutro sentido, "home office" -atração de boa parte dos lançamentos- é de fazer graça aos britânicos. Em Londres, é o departamento de imigração, temido por dez entre dez imigrantes.
Num terreno na rua Leopoldo Couto de Magalhães (Itaim Bibi, zona oeste) onde será construído um prédio com apartamentos vendidos a R$ 1,7 milhão, um painel de cinco metros de largura define a obra: "walkmobility".
"É o conceito. Estamos no espaço "prime" do Itaim", diz o corretor José Kennedy. Como assim? "Estamos perto de tudo no bairro", afirma.
Traduzido para o inglês, o "walkmobility" que ele disse seria "walking distance". Ou simplesmente "a pé".
A poucas quadras dali, o prédio This is It, vende "style home", em vez de apartamentos -e oferece: 1) "dance hall" (salão de festas); 2) "smart control, stand alone" (controle remoto para luz e ar-condicionado); 3) "fitness" (academia); 4) "drive range" (para jogar golfe); 5) "snooker bar" (sinuca); 6) "babysitter" (babá) e 7) "personal line" (decorador).
"O "dance hall" vai ser o salão de festas, é tipo um pub. Vai ter música, alegria", afirma a corretora Clara Lima.

PIADA
A Folha comparou projetos de São Paulo com prédios equivalentes em Nova York e Londres e enviou a lista a dois corretores americanos.
Agora professor de inglês em São Paulo, o corretor americano Anthony Haas diz se divertir ao folhear anúncios de imóveis e não entender de onde as construtoras tiram esses neologismos.
"Se esses termos fossem usados nos EUA seriam motivo de piada, não significam nada em inglês", diz Haas.
""Wash lounge" é engraçado porque soa como um lugar para tomar banho, em vez de lavar roupas", diz o corretor Alex Cohen, da imobiliária Cushman & Wakefield, de Nova York.
"O erro mostra o artificialismo da transposição, o que interessa é a sonoridade. Querem dar valor ao que vendem", diz Luiz Tatit, professor de linguística da USP.
"Tem um dicionário para eu ver a tradução de "half-pipe?'", pergunta a designer Lia Sá. Ela procura, mas não acha o que a construtora queria dizer: pista de skate.


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