São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

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Devastação afeta qualidade de vida

da Reportagem Local

A redução de mata atlântica ao longo das últimas décadas já está interferindo na qualidade de vida de milhões de brasileiros.
A tendência atual, com maior ênfase em áreas particulares, é o corte da mata para fazer campos de pastagem. Mas, em muitos locais, principalmente em regiões próximas a grandes centros urbanos, há desmatamento para ocupação humana, em assentamentos muitas vezes irregulares.
Esse é o caso da ocupação nos entornos da represa de Guarapiranga (na zona sul da cidade de São Paulo), onde hoje vivem mais de 500 mil pessoas.
A região começou a ser invadida no final dos anos 60. Até então, eram poucas famílias, principalmente de imigrantes nordestinos, que se instalavam em favelas às margens da represa.
Na década seguinte, o processo de urbanização se acelerou rapidamente. O governo, no entanto, não conseguiu acompanhar esse processo e não ofereceu a infra-estrutura necessária para os novos moradores da região.
A consequência é visível a qualquer pessoa que visite a região. Apesar dos esforços do governo estadual, que está investindo em saneamento básico no local, o esgoto é despejado diretamente na represa, responsável pelo abastecimento de água para 6 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Por isso, o Estado gasta mais para tratar a água -que, mesmo com aditivos químicos, não apresenta a mesma qualidade de 20 anos atrás.
Outro efeito da devastação (a longo prazo) é o comprometimento da biodiversidade da mata atlântica. A área remanescente, que se tornou patrimônio nacional a partir da Constituição de 1988, concentra 171 das 202 espécies de animais ameaçados de extinção no Brasil, segundo levantamento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A região também reúne nascentes de centenas de rios que abastecem grandes cidades brasileiras e concentra cerca de 10 mil espécies de plantas endêmicas (encontradas apenas na mata atlântica).
O presidente do Ibama, Eduardo Martins, que participou ontem do evento de divulgação dos dados do novo levantamento na sede do Inpe, em São José dos Campos, diz que ainda este ano cerca de 75 mil hectares de floresta de mata atlântica serão transformados em unidades de conservação ambiental.




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