|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Para especialista, índice da substância cancerígena encontrada no solo é dez vezes maior do que o aceitável no ar
Concentração de benzeno em Mauá supera o permitido
FABIANE LEITE
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A concentração de benzeno,
substância cancerígena, a um metro da superfície do condomínio
Residencial Barão de Mauá está
acima dos limites nacionais e internacionais de exposição permanente ao composto.
A maior concentração de benzeno verificada foi de 5,40 mg/ m3
(miligramas por metro cúbico), o
que corresponde volumetricamente a 1,65 ppm (parte por milhão), segundo cálculo realizado
pelo engenheiro químico José
Possebon, pesquisador da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho).
Não há cálculos do limite de
concentração do benzeno no subsolo. O índice máximo permitido
pela Associação Americana de
Saúde e Segurança Ocupacional
para exposição permanente no
ambiente de trabalho é 0,1 ppm.
No Brasil, esse limite é de 1 ppm,
de acordo com norma do Ministério do Trabalho.
Para o chefe do Centro de Controle de Intoxicação do Hospital
das Clínicas, Anthony Wong, os
moradores que permanecem no
local correm risco. "Esse nível
corresponde a mais de dez vezes o
aceitável no ar. Mesmo que esteja
no subsolo, por algum caminho
chega ao ambiente."
Wong destacou que exames de
sangue e urina não detectam a
ação do benzeno, que ocorre sobre as células da medula óssea,
dos testículos e dos rins.
A análise da concentração foi
feita, no ano passado, pela empresa canadense OSB para a CSD-Geoklock, contratada pela construtora do empreendimento, a
SQG, para monitorar a contaminação do local. Foram encontradas 44 substâncias tóxicas no terreno. A mais grave é o benzeno.
A concentração de 5,40 mg/m3
de benzeno foi a maior encontrada nos seis locais com grande
quantidade de voláteis da área, segundo o diretor-presidente da
CSD-Geoklock, Ernesto Moeri.
Ele confirmou que o índice está
acima do considerado aceitável
para ambientes de trabalho, mas
destaca que a amostra utilizada
para calcular a concentração estava a um metro de profundidade.
"Ou seja, um ambiente confinado
que ninguém jamais vai respirar.
Quando esse gás chega à atmosfera, sofre diluição de milhares de
vezes e certamente fica abaixo de
possibilidade de detecção".
A análise da contaminação atmosférica, a cargo de outra empresa, no entanto, ainda não está
concluída.
Especialistas discordam de
Moeri. Segundo a química da
Unesp Mary Rosa Santiago Silva,
é muito fácil que a contaminação
do solo passe para o ar.
Para ela, a situação é grave, principalmente para os operários que
trabalham na construção dos prédios. A especialista afirma que os
moradores dos apartamentos térreos estão bem mais suscetíveis a
contaminações e que os compostos podem ser absorvidos por estofados e cortinas nas casas.
O Sindicato dos Trabalhadores
da Construção Civil está tentando
localizar os funcionários da obra.
"É muito difícil garantir que,
durante a descontaminação, as
pessoas não vão ficar expostas",
afirmou Possebon. Segundo ele,
mesmo no subsolo, o benzeno
pode estar prejudicando principalmente as crianças.
A reportagem não localizou o
secretário da Saúde de Mauá,
Marcio Chaves Pires.
A Cetesb, que já tinha conhecimento do laudo, de acordo com a
CSD-Geoklock, não quis se pronunciar sobre o assunto.
Texto Anterior: Dragagem de sedimento pode agravar poluição Próximo Texto: Promotoria vê descontrole da Cetesb Índice
|