São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2001

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AMBIENTE

Para especialista, índice da substância cancerígena encontrada no solo é dez vezes maior do que o aceitável no ar

Concentração de benzeno em Mauá supera o permitido

FABIANE LEITE
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A concentração de benzeno, substância cancerígena, a um metro da superfície do condomínio Residencial Barão de Mauá está acima dos limites nacionais e internacionais de exposição permanente ao composto.
A maior concentração de benzeno verificada foi de 5,40 mg/ m3 (miligramas por metro cúbico), o que corresponde volumetricamente a 1,65 ppm (parte por milhão), segundo cálculo realizado pelo engenheiro químico José Possebon, pesquisador da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho).
Não há cálculos do limite de concentração do benzeno no subsolo. O índice máximo permitido pela Associação Americana de Saúde e Segurança Ocupacional para exposição permanente no ambiente de trabalho é 0,1 ppm.
No Brasil, esse limite é de 1 ppm, de acordo com norma do Ministério do Trabalho.
Para o chefe do Centro de Controle de Intoxicação do Hospital das Clínicas, Anthony Wong, os moradores que permanecem no local correm risco. "Esse nível corresponde a mais de dez vezes o aceitável no ar. Mesmo que esteja no subsolo, por algum caminho chega ao ambiente."
Wong destacou que exames de sangue e urina não detectam a ação do benzeno, que ocorre sobre as células da medula óssea, dos testículos e dos rins.
A análise da concentração foi feita, no ano passado, pela empresa canadense OSB para a CSD-Geoklock, contratada pela construtora do empreendimento, a SQG, para monitorar a contaminação do local. Foram encontradas 44 substâncias tóxicas no terreno. A mais grave é o benzeno.
A concentração de 5,40 mg/m3 de benzeno foi a maior encontrada nos seis locais com grande quantidade de voláteis da área, segundo o diretor-presidente da CSD-Geoklock, Ernesto Moeri.
Ele confirmou que o índice está acima do considerado aceitável para ambientes de trabalho, mas destaca que a amostra utilizada para calcular a concentração estava a um metro de profundidade. "Ou seja, um ambiente confinado que ninguém jamais vai respirar. Quando esse gás chega à atmosfera, sofre diluição de milhares de vezes e certamente fica abaixo de possibilidade de detecção".
A análise da contaminação atmosférica, a cargo de outra empresa, no entanto, ainda não está concluída.
Especialistas discordam de Moeri. Segundo a química da Unesp Mary Rosa Santiago Silva, é muito fácil que a contaminação do solo passe para o ar.
Para ela, a situação é grave, principalmente para os operários que trabalham na construção dos prédios. A especialista afirma que os moradores dos apartamentos térreos estão bem mais suscetíveis a contaminações e que os compostos podem ser absorvidos por estofados e cortinas nas casas.
O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil está tentando localizar os funcionários da obra.
"É muito difícil garantir que, durante a descontaminação, as pessoas não vão ficar expostas", afirmou Possebon. Segundo ele, mesmo no subsolo, o benzeno pode estar prejudicando principalmente as crianças.
A reportagem não localizou o secretário da Saúde de Mauá, Marcio Chaves Pires.
A Cetesb, que já tinha conhecimento do laudo, de acordo com a CSD-Geoklock, não quis se pronunciar sobre o assunto.


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