São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARCAS

"Minha mãe é portuguesa, branca, e eu cresci em Curitiba. Na minha infância, minha casa era frequentada por famílias brancas, porque as mulheres se davam. Mas as crianças, não. Até hoje, não suporto o cheiro de mexerica, porque lembro das loirinhas que frequentavam a minha casa, descascando as frutas e fazendo caretas, me irritando. Hoje, se entro em uma loja e sou mal atendida, saco o dinheiro e compro o que quero. Às vezes me arrependo, mas não vou fazer queixa. A lei que saiu está engavetada, ficou no papel."
Ivanice Aparecida da Silva, 33

"Eu estava em Morro de São Paulo (BA), com uns amigos, negros. Entramos em um restaurante, e o dono disse para a gente que a única mesa vazia estava reservada. Circulamos pelo local e logo a mesa foi ocupada por um grupo de brancos. O que fizemos? Fomos para outro restaurante, mais caro, comemos mais e bebemos mais. Não fiz queixa nenhuma. Em lojas, é frequente te tratarem como suspeito ou te ignorarem, achando que você não tem dinheiro. Normalmente, eu deixo passar. Dependendo do humor, armo um barraco. Mas não iria à polícia."
Marcelo Mac Farland, 31



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.