São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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Para 'boy', racismo acontece todo dia

da Reportagem Local

O office boy Gilberto Aparecido Ribeiro, 22, sorriu quando ouviu a pergunta se já havia sido vítima de preconceito racial alguma vez na vida.
"Na vida? Esse negócio acontece todo dia, várias vezes por dia, cara."
Sem ter que parar para pensar, Ribeiro listou rapidamente as diversas situações de discriminação que vieram à memória. "No banco, na minha rua, em qualquer loja que eu entre, na fila do ônibus, a caminho do trabalho. Tá bom, já?"
Nunca pensou em ir à polícia para prestar queixa. "Para quê? Muitas vezes são os homens (policiais militares) que te tratam mal só porque você é preto."
Uma das vezes foi em um ponto de ônibus. A fila, diz Ribeiro, era grande. Mas o policial que parou o carro de polícia do outro lado da rua veio em sua direção.
"Ele me tirou da fila e passou a maior revista, na frente de todo mundo. Eu não tinha feito nada de errado, mas ele me humilhou grandão, mesmo assim", disse.
A outra vez foi em uma rua no calçadão do centro de São Paulo. "Eu estava indo para o banco com uns documentos do trabalho dentro de uma pasta. Pronto. Já me pegaram e passaram revista, bagunçaram os documentos todos. Parece até que é de propósito."
Nem em seu local mais frequente de trabalho, o banco, Ribeiro está livre do preconceito, diz. A armadilha, agora, está nas portas giratórias instaladas na entrada das agências.
"Já aconteceu um montão de vezes. Todo mundo vai entrando, vai entrando, chega na sua vez, trava. Aí é aquele negócio de tirar tudo do bolso. "Não tem mais uma moeda? Uma chave?' E todo mundo atrás, achando que você vai tirar é um trabucão do bolso. Só falta pedir para você tirar a roupa." (RV)



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