São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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RACISMO CORDIAL 3
Entidade classifica 49 casos de repercussão de discriminação contra judeus no Brasil, em seis anos
SP tem 38 denúncias de anti-semitismo

da Reportagem Local

Os casos de repercussão de discriminação contra judeus no Brasil somaram 49 casos em seis anos, entre 92 e 97, segundo o GPD (Grupo de Pesquisa da Discriminação) da USP (Universidade de São Paulo). São Paulo concentrou a maioria (38) das ações preconceituosas.
A maior parte das discriminações (36,4%) foi provocada por uma pessoa particular. As ofensas ou violências por parte de gangues somaram 11,4% das ocorrências.
A apologia à discriminação e ofensas morais escritas -por meio, por exemplo, de folhetos ou tablóides- representaram 26,5% dos casos.
"Os casos que acabam aparecendo são poucos porque há um grande número de subnotificações", disse o sociólogo Tulio Kahn, do GPD.
Atualmente, os grupos anti-semitas encontraram na Internet o meio mais seguro de divulgação de suas idéias, sem ser descobertos.
A particularidade dos grupos anti-semitas e antinordestinos é que aparentam ser bem estruturados. Seus sites são interligados e há troca de informações.
O conteúdo dessas páginas será alvo de uma representação que a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo encaminhará amanhã à Procuradoria Geral de Justiça do Estado.
Segundo Kahn, a Internet reúne várias características que facilitam a divulgação das idéias neonazistas, sem que seus autores sejam identificados com facilidade.
"Há dificuldade de controle dos autores dos sites, o custo da página é baixo e atinge milhões de pessoas e o conteúdo do site pode ser retirado rapidamente, em caso de investigação. Há uma febre de sites anti-semitas e racistas na Internet", disse Kahn.
Representação
Contra esses sites, o coordenador do serviço SOS Racismo da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Renato Simões (PT), entregará amanhã uma representação ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luís Antonio Marrey.
O dossiê de mais de cem páginas contendo cópias dos sites discriminatórios pede a instauração de inquérito para apurar a responsabilidade pela divulgação da "Campanha pela expulsão dos nordestinos de São Paulo" pela "União Nacional Socialista por São Paulo" e "Frente Nacional pela Ordem e Progresso", ambos de São Paulo.
São listados ainda sites nacionalistas apontados pelo GPD. Um deles é a "Internet Nacionalista"
"Não imagino o nazismo aplicado no Brasil, mas defendo que foi a melhor opção na Europa", escreve Rodrigo, que se apresenta como criador da página. O site veicula textos anti-semitas.
A página lista 51 sites latino-americanos e europeus que defendem idéias nacionalistas, racistas, revisionistas, monarquistas e integralistas.
"A maioria desses sites estão interligados. Existem as "páginas de mortalidade rápida', que são retiradas quando descobertas pelo provedor, mas também existem os sites com estrutura, provedor próprio, ou seja, indícios de uma organização empresarial, que pode vender livros, vídeos etc, além de divulgar as idéias racistas", afirmou Tulio Kahn. (ANDRÉ LOZANO)



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