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RIO
Caso de carro recuperado logo após furto ou roubo irá para o item "roubo-outros"
Polícia altera o registro de crimes
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Por determinação do chefe de
Polícia Civil, Álvaro Lins, as delegacias fluminenses deixaram de
registrar como roubo e furto de
veículos os casos em que o carro é
recuperado com rapidez. Os crimes passaram a ser registrados no
item "Roubo-Outros".
Lins também determinou que
não sejam consideradas roubo de
carga as ocorrências em que o ladrão consegue levar uma "parte
insignificante do material transportado ou armazenado". Mais
uma vez, o registro deve ser classificado no item "Roubo-Outros".
As duas determinações (números 57 e 58) do chefe de Polícia Civil foram anunciadas no último
dia 9, no "Boletim Informativo da
Polícia Civil", de circulação restrita aos membros da corporação.
Até então, toda vez que um carro era roubado ou furtado, independentemente do tempo que a
polícia levava para localizá-lo, o
registro era feito no item "Roubo
e Furto de Veículos".
Da mesma forma, todo roubo
de carga era classificado no item
correspondente. Ao fazer o registro, os policiais não levavam em
conta a quantidade roubada.
Para a socióloga Julita Lemgruber, ex-ouvidora da Secretaria de
Segurança, a mudança nos registros representa uma "evidente
tentativa de maquiagem" dos números da criminalidade.
"É lamentável. Quando menciona uma carga insignificante e não
define o que isso significa, você dá
margem a todo tipo de interpretação. Além do mais, a localização
rápida de um carro não elimina o
roubo ou o furto", disse ela.
O roubo de cargas e o roubo e
furtos de veículos integram a lista
de dez crimes considerados prioritários para a política de segurança e que são analisados mensalmente pelo ISP (Instituto de Segurança Pública), da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
Os "roubo-outros" não são analisados pelo ISP. Não há no boletim mensal do órgão referências
ao quesito. O relatório referente a
agosto, divulgado ontem, relaciona 9.294 roubos e 9.238 furtos.
De 1º a 31 de agosto, segundo o
órgão, houve 218 roubos de carga,
contra 317 no mesmo mês do ano
passado -queda de 31,2%.
Em agosto, informa o relatório,
4.110 carros foram roubados ou
furtados (redução de 0,7% em relação às 4.139 ocorrências registradas em agosto de 2002).
No texto publicado no "Boletim
Informativo da Polícia Civil", Álvaro Lins credita a mudança nos
registros de roubo de cargas "à
necessidade de padronização".
Segundo o texto, só deve ser registrada como roubo de carga a
ocorrência em que houver a subtração "de parte substancial da
carga, em quantidade e/ou valor
que recomende investigação da
Delegacia de Roubos e Furtos de
Cargas".
A suposta necessidade de padronização também é apontada
pelo chefe de Polícia Civil como
razão da mudança nos registros
de roubos e furtos de veículos.
"Nos casos em que a recuperação do veículo se der imediatamente após a subtração, (...) a autoridade policial, tendo conhecimento deste fato antes do fechamento do Registro de Ocorrência,
deverá capitulá-lo como "Roubo-Outros'", diz o texto.
No relatório divulgado, somente dois dos dez tipos de crimes relacionados registraram aumento
em relação a agosto de 2002: homicídio doloso (crescimento de
1,4%) e roubo a residência (7,9%).
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