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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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RIO

Caso de carro recuperado logo após furto ou roubo irá para o item "roubo-outros"

Polícia altera o registro de crimes

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Por determinação do chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, as delegacias fluminenses deixaram de registrar como roubo e furto de veículos os casos em que o carro é recuperado com rapidez. Os crimes passaram a ser registrados no item "Roubo-Outros".
Lins também determinou que não sejam consideradas roubo de carga as ocorrências em que o ladrão consegue levar uma "parte insignificante do material transportado ou armazenado". Mais uma vez, o registro deve ser classificado no item "Roubo-Outros".
As duas determinações (números 57 e 58) do chefe de Polícia Civil foram anunciadas no último dia 9, no "Boletim Informativo da Polícia Civil", de circulação restrita aos membros da corporação.
Até então, toda vez que um carro era roubado ou furtado, independentemente do tempo que a polícia levava para localizá-lo, o registro era feito no item "Roubo e Furto de Veículos".
Da mesma forma, todo roubo de carga era classificado no item correspondente. Ao fazer o registro, os policiais não levavam em conta a quantidade roubada.
Para a socióloga Julita Lemgruber, ex-ouvidora da Secretaria de Segurança, a mudança nos registros representa uma "evidente tentativa de maquiagem" dos números da criminalidade.
"É lamentável. Quando menciona uma carga insignificante e não define o que isso significa, você dá margem a todo tipo de interpretação. Além do mais, a localização rápida de um carro não elimina o roubo ou o furto", disse ela.
O roubo de cargas e o roubo e furtos de veículos integram a lista de dez crimes considerados prioritários para a política de segurança e que são analisados mensalmente pelo ISP (Instituto de Segurança Pública), da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
Os "roubo-outros" não são analisados pelo ISP. Não há no boletim mensal do órgão referências ao quesito. O relatório referente a agosto, divulgado ontem, relaciona 9.294 roubos e 9.238 furtos.
De 1º a 31 de agosto, segundo o órgão, houve 218 roubos de carga, contra 317 no mesmo mês do ano passado -queda de 31,2%.
Em agosto, informa o relatório, 4.110 carros foram roubados ou furtados (redução de 0,7% em relação às 4.139 ocorrências registradas em agosto de 2002).
No texto publicado no "Boletim Informativo da Polícia Civil", Álvaro Lins credita a mudança nos registros de roubo de cargas "à necessidade de padronização".
Segundo o texto, só deve ser registrada como roubo de carga a ocorrência em que houver a subtração "de parte substancial da carga, em quantidade e/ou valor que recomende investigação da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas".
A suposta necessidade de padronização também é apontada pelo chefe de Polícia Civil como razão da mudança nos registros de roubos e furtos de veículos.
"Nos casos em que a recuperação do veículo se der imediatamente após a subtração, (...) a autoridade policial, tendo conhecimento deste fato antes do fechamento do Registro de Ocorrência, deverá capitulá-lo como "Roubo-Outros'", diz o texto.
No relatório divulgado, somente dois dos dez tipos de crimes relacionados registraram aumento em relação a agosto de 2002: homicídio doloso (crescimento de 1,4%) e roubo a residência (7,9%).


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