São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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LEI SECA

Idéia consta de proposta de novo regulamento para a propaganda; entidades pedem veto à divulgação de bebidas alcoólicas

Governo quer alerta mais duro sobre o álcool

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal propôs um novo regulamento para a propaganda de bebidas alcoólicas. O texto prevê mensagens mais duras sobre os riscos de consumo, a exemplo do que foi feito com o cigarro, relacionando a ingestão de álcool ao câncer e a mortes nos trânsito, por exemplo.
A proposta é que mesmo reportagens jornalísticas sobre o álcool -como um texto sobre um novo vinho- tragam as advertências.
No entanto, as novas regras propostas mantêm a liberdade para as cervejarias anunciarem seus produtos em qualquer horário na televisão, o que gerou protestos de ONGs e entidades médicas que cobram a aprovação, no Congresso, de uma lei que proíba a propaganda das bebidas alcoólicas.
A proposta de novo regulamento, divulgada no último dia 16 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, estará aberta para consulta pública durante 60 dias, o que significa que ainda poderá sofrer modificações.
As punições previstas partem de advertência e passam por multa, suspensão e até cancelamento do alvará de funcionamento de quem desrespeitar as regras.

Restrição
Segundo Maria José Fagundes, gerente de monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão autor do texto, a regulamentação não poderia se contrapor à legislação já existente sobre o assunto no país e que só prevê restrição de propaganda para bebidas de alto teor alcoólico (superior a 13 graus Gay Lussac), como cachaça e uísque.
Pelas regras em vigor no país, só pode haver propaganda desse tipo de bebida no rádio e na TV entre as 21h e as 6h. Somente uma nova lei poderia derrubar as normas atuais.
De acordo com Maria José, a proposta encaminhada pela Anvisa já passou por câmara sobre a política de álcool, presidida pelo Ministério da Saúde. "Pior era deixar como está", afirmou. A reportagem não conseguiu ontem ouvir representantes do Ministério da Saúde.
No ano passado, um grupo interministerial chegou a encaminhar ao então ministro Humberto Costa uma proposta para que a publicidade de todos os tipos de bebidas pudesse ser veiculada somente após as 23h. A indústria do álcool foi contra medidas mais restritivas à propaganda. No início de sua gestão, o ministro havia prometido regras mais duras para combater o consumo de álcool.

Críticas
"Isso [a proposta de regulamentação da Anvisa] é um retrocesso para a saúde do país. Parece que outros interesses falam mais alto", afirma Isac Jorge Filho, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
O órgão, ao lado de representantes de universidades e do Conselho Nacional de Saúde, lidera uma campanha com o apoio de 300 entidades pelo fim da propaganda de bebidas alcoólicas desde o ano passado. Mais de 200 mil assinaturas foram colhidas em um abaixo-assinado, diz Jorge Filho.
Entre as novidades do texto agora em discussão na Anvisa estão seis frases de impacto, diz Maria José. Há algumas que relacionam o consumo de álcool ao câncer de fígado, a lesões cerebrais, a acidentes fatais de trânsito e ao retardo mental de bebês.
Segundo Maria José, pela primeira vez também foram padronizados o tamanho e a forma dessas mensagens, de acordo com o meio de comunicação.

Símbolos infantis
O texto também aproveita a auto-regulamentação do Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária). Assim como fez o órgão de controle do setor de propaganda, bane da publicidade os símbolos infantis que já foram usados principalmente em comerciais de cerveja, como tartarugas falantes -e que poderiam induzir jovens ao consumo.
A norma em discussão prevê ainda que a publicidade não possa associar o álcool ao sucesso e à integração social.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o consumo de álcool vem crescendo no Brasil nos últimos 30 anos.
Estudos feitos pela Secretaria Nacional Antidrogas apontam a substância como a droga mais consumida no país e com o maior índice de dependência, 11,2% da população.


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