São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2001

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LEGISLATIVO

Mínimo de votos para abrir comissão caiu de 28 para 19 a pedido do partido; oposição teria ao menos 20 vereadores

CPIs podem prejudicar reforma do PT na Câmara

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os vereadores de oposição, mesmo sendo minoria na Câmara Municipal de São Paulo, têm condições de abrir várias CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), podendo brecar a reforma administrativa da Casa e a aprovação de projetos da prefeita Marta Suplicy (PT).
A possibilidade de a oposição abrir uma CPI só com 19 votos -antes eram necessários 28- surgiu com uma vitória do próprio PT na Justiça, ano passado. O quórum mínimo de 28 beneficiou o ex-prefeito Celso Pitta (PTN), que tinha maioria na Câmara.
Há na Casa 26 pedidos de CPI aguardando aprovação, a maioria feitos pela oposição a Pitta.
O Órgão Especial do TJ (Tribunal de Justiça) decidiu reduzir o quórum para um terço dos 55 vereadores seguindo a Constituição Federal e a do Estado, que prevêem a mesma proporção para CPIs no Congresso e na Assembléia. A alteração foi causada por ação direta de inconstitucionalidade proposta em 1998 pelo PT.
A atual oposição articula a criação de CPIs do lixo -que investigue o contrato emergencial de Marta com empresas de lixo denunciadas por irregularidades pelo próprio PT- e do PAS. O vereador Carlos Gianazzi (PT) está propondo uma CPI da Educação.
A oposição é formada atualmente pelo PSDB (8 votos), PMDB (4 votos), PPB (6 votos) e dois vereadores da Força Sindical. Com esses 20 votos, o grupo conseguiria aprovar qualquer CPI. "Duas CPIs podem parar a Câmara", disse o chefe da assessoria judiciária, Antonio de Freitas.
Vários vereadores permanecem com dúvida em relação ao quórum, mas Freitas confirmou que são necessários 19 votos para abrir a investigação. No ano passado, a Mesa recorreu da decisão, mas o TJ manteve o acórdão.
O vereador Ítalo Cardoso (PT) disse que a intenção era conseguir a liminar (decisão provisória) em 1998 para realizar uma série de investigações. A oposição ao ex-prefeito Celso Pitta não conseguiu aprovar a CPI do frango (suposto superfaturamento de frangos vendidos à prefeitura), por exemplo. A decisão do TJ saiu em outubro de 2000, no fim dessa gestão.
Cardoso reconhece que a disseminação de CPIs pode prejudicar o trabalho da Câmara. "Mas é o preço da democracia. Se servia naquela época, não tem por que não servir agora."
O vereador Milton Leite (PMDB), um dos articulares da CPI do lixo, disse ter dúvida sobre a validade do novo quórum. "Mas, se for assim, melhor", disse Leite, que negou a possibilidade de a oposição usar o novo quórum para boicotar a reforma administrativa e o governo Marta.

Resistência interna
A reforma administrativa, que prevê corte de salário e extinção de cargos, provocou insatisfação no próprio PT. O presidente da Câmara, José Eduardo Cardozo (PT), realizou uma reunião ontem para apaziguar os ânimos e evitar um racha na bancada.
Os vereadores petistas reclamam que não foram ouvidos nas decisões e que os cortes deveriam ter começado pelos cargos da Mesa, e não dos gabinetes. Cardozo negou oficialmente a crise; no entanto, vereadores petistas confirmaram a insatisfação.
"Não podemos cair na vala comum de dizer que vereadores não precisam de muitos assessores. Mas se quiser fazer projetos e acompanhar a população, precisa sim", afirmou o vereador Arselino Tatto (PT).
Para o vereador Devanir Ribeiro (PT), que fez um estudo de reforma em 1999, os cortes deveriam ter começado pela Mesa. "Só o presidente e o primeiro-secretário têm funções. O restante -dois vice-presidentes, um segundo secretário e dois suplentes- só assumem na ausência deles; logo não precisam de cargos." Com isso, haveria uma redução de 62 para 38 cargos na Mesa.



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