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Dez meses depois, pacote anticorrupção de Marta ainda engatinha
DA REPORTAGEM LOCAL
Em março do ano passado, dois
dias depois de ter vindo à tona o
sumiço de processos das subprefeituras, a prefeita de São Paulo,
Marta Suplicy (PT), anunciou um
pacote anticorrupção. O objetivo:
combater o sumiço dos processos
e a legalização de imóveis irregulares. Hoje, dez meses depois, as
medidas anunciadas ou não saíram do papel ou tiveram vida curta em tentativas pontuais.
A notícia de que processos desapareciam de subprefeituras foi divulgada pela Folha em 13 de março. Naquele dia o governo admitiu que faltavam mecanismos de
controle para brecar a corrupção
funcional e fechar os ralos pelos
quais escoam o dinheiro público.
A Ouvidoria sugeriu à prefeita a
adoção de uma auditoria externa
para indicar quantos processos
sumiram e que prejuízo causaram
ao cofres -Marta acatou.
Além da auditoria, a prefeita
anunciou, no dia 15, a publicação
de um pacote anticorrupção no
"Diário Oficial". Dizia que:
1) o deferimento ou indeferimento de alvarás para obras e reformas só poderiam acontecer em
audiência pública em até 15 dias
após o protocolo do pedido;
2) os fiscais só poderiam exercer
sua função de posse de uma ordem de serviço;
3) deveria ser limitado a três o
número de funcionários que possuem senhas para encaminhar
decisões ao "Diário Oficial".
No dia 20, ao divulgar quantos
processos haviam desaparecido
de acordo com a contagem manual que ela determinara, Marta
disse ainda que as unidades teriam de fazer recontagem dos
processos a cada três meses, vistorias em todos os imóveis cujos
processos tivessem sumido e convocar seus proprietários a entregar documentos.
Isso tudo foi há dez meses. Nesta semana, a Folha procurou a assessoria da prefeita, que indicou o
atual secretário das Subprefeituras, Antonio Donato, para dizer o
que foi feito desde o anúncio das
medidas. Só a restrição da senha a
três pessoas foi implantada.
Donato disse que o edital para a
contratação de uma auditoria externa para "fazer um diagnóstico
do sistema de controle de processos das subprefeituras" foi lançado em 25 de março, mas a licitação acabou suspensa por um parecer da Procuradoria Geral do
Município, segundo o qual a Secretaria das Subprefeituras não
tem competência para isso.
"Esse parecer é de dezembro e
chegou ao meu conhecimento no
último dia 8. Minha assessoria jurídica discorda. E pediremos à
Marta para que delegue essa competência", disse Donato.
O secretário sustentou que as
subprefeituras chegaram a convocar audiências públicas para tomar as suas decisões de forma
transparente -embora não haja
controle sobre quantas o fizeram
com publicação no "Diário Oficial"-, mas disse que as pessoas
não compareciam e que elas se
mostraram inócuas.
Sobre os fiscais necessitarem de
ordem de serviço para trabalhar,
ele reafirmou a determinação e
disse que "se houve alguma descontinuidade, foi um erro". Não
há na secretaria nenhum controle
sobre essas ordens de serviços.
A recontagem manual de processos, que Marta previu para ser
trimestral, nunca mais aconteceu,
pois "pararia as subprefeituras".
Quando isso foi feito, no ano passado, demorou só uma semana.
As vistorias nos imóveis cujos
processos sumiram ocorreram
em alguns casos, segundo o secretário, "mas esse procedimento é
lento porque são muitos casos".
Não há nenhum controle sobre
essas vistorias ou sobre a reconstrução dos processos na secretaria. No caso da Vieira de Moraes,
nem vistoria nem reconstrução
ocorreram. Se tivessem ocorrido,
poderiam impedir.
(SC)
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