|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO FEDERAL
Dívida das empresas atingiu nível recorde em janeiro; maior parte dos pagamentos é feita em juízo
Planos de saúde já devem R$ 142 mi ao SUS
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A dívida das operadoras de saúde com o SUS (Sistema Único de
Saúde) bateu o recorde em janeiro e chegou a R$ 141,7 milhões. O
mais grave é que a dívida está aumentando em progressão geométrica: 73% em sete meses (de julho
a janeiro).
A dívida é referente ao atendimento prestado aos clientes dos
planos de saúde nos hospitais públicos. Para se ter uma idéia do
volume dos recursos, com cerca
de R$ 140 milhões o governo de
São Paulo construiu, no ano passado, cinco hospitais de 250 leitos,
cada um com capacidade para
atender mil pacientes por dia no
pronto socorro e realizar 500 partos por mês.
A necessidade de recursos é ainda maior num ano em que o governo federal cortou R$ 5 bilhões
do orçamento da área social -R$
1,6 bilhão da saúde- para pagar a
dívida pública.
De um lado, as operadoras de
planos de saúde não pagam sob o
argumento de que o acesso à saúde é um direito constitucional de
todos os brasileiros. De outro, o
governo afirma que, se os clientes
são tratados em hospitais públicos, as empresas estão enriquecendo às custas da União.
O impasse só será resolvido depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) julgar a constitucionalidade da Lei 9.656/98, a chamada "lei dos planos de saúde",
que trata do ressarcimento. Algumas das ações movidas pelas operadoras de saúde estão há três
anos na fila aguardando julgamento.
O ministro da Saúde, Humberto
Costa, informou que nesta semana começará a estudar uma proposta para apresentar às operadoras. Disse ainda que o impasse sobre o ressarcimento só será resolvido definitivamente depois que o
Supremo julgar as ações de inconstitucionalidade.
Um dos argumentos das operadoras no STF é que a lei acabou
atingindo planos de saúde criados
antes de 1998 (ano de promulgação da lei). Para as empresas, não
haveria base legal para isso.
A ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar) começou a
operar em abril de 2000, um ano e
oito meses depois da aprovação
da lei. Em agosto do mesmo ano
começou a cobrar das operadoras, com data retroativa a setembro de 1999.
Os planos criados antes de 1998
(data da promulgação da lei), que
representam pelo menos 65% dos
planos de saúde do país, também
estão submetidos à lei.
Até janeiro passado foram cobrados R$ 197,8 milhões, mas
apenas R$ 40,7 milhões entraram
na contabilidade do Ministério da
Saúde. Mas nem tudo o que já foi
cobrado e ainda não foi pago é
considerado dívida.
Há R$ 19,8 milhões de cobranças cujas datas de pagamento ainda não venceram e mais R$ 725,7
mil que foram negociados para
serem pagos em parcelas.
O impasse entre operadoras e
governo pode ser quantificado
pelos pagamentos da dívida feitos
em juízo: em sete meses o montante depositado na Justiça aumentou 155,8%. Em julho de 2002
eram R$ 13,6 milhões e, em janeiro passado, R$ 34,8 milhões.
A rede pública de saúde só poderá utilizar esse dinheiro depois
que o STF se pronunciar. Por enquanto, as empresas têm obtido
liminares (sentenças provisórias
até o julgamento do mérito da
questão) que as permitem depositar em juízo.
A dívida das operadoras com o
SUS é contabilizada a cada três
meses. A cada 90 dias, a ANS cruza os nomes dos pacientes atendidos na rede pública com a identidade dos clientes das operadoras
-mensalmente as operadoras
mandam seus cadastros à agência. Com base nisso começa o
processo de cobrança.
O processo é tão burocrático
que operadoras de médio e grande portes (mais de 10 mil clientes)
tiveram de criar departamentos
só para dar conta do trabalho.
Texto Anterior: Livros jurídicos - Walter Ceneviva Próximo Texto: Multas contra operadoras sobem 252% Índice
|