São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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Grande Rio salva com marcha militar noite repleta de desfiles sem graça

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

Numa noite de apresentações mornas, por vezes beirando o gélido, a Grande Rio foi a única escola a empolgar o Sambódromo no desfile de domingo do Grupo Especial do Rio.
Com um enredo sobre o líder comunista Luiz Carlos Prestes e um samba animado, a escola de Duque de Caxias teve seu bom desfile recompensado com gritos de "É campeã!" na praça da Apoteose.
O carnavalesco Max Lopes inovou ao dar uma aparência de parada militar ao desfile, como se quisesse reproduzir na avenida a marcha da Coluna Prestes.
Do abre-alas, formado por tanques e um memorial a Prestes, aos diretores da escola, vestidos como soldados, tudo ia nessa linha, dando um toque inusitado, algo raro na noite.
Entre as demais escolas, nem mesmo a Mocidade Independente, cuja bateria costuma levantar o público, conseguiu animar.
Os ritmistas tocaram burocraticamente, com uma só variação -uma paradinha antes do refrão.

Estrelas
A escola de Padre Miguel fez um desfile bonito, sobre as estrelas, mas frio e sem surpresas.
Como frio e sem surpresas foi o desfile do Salgueiro -cujas alegorias, grandiosas e de belo efeito, contando o festival do boi-bumbá que acontece em Parintins (AM), garantiriam ótima colocação à escola, se o julgamento se resumisse a esse quesito.
Com uma letra de samba -sobre a noite- e melodia mais ricas que os anteriores, a Portela fechou o desfile, às 6h30 de segunda-feira, sem conseguir espantar o sono do público.
O samba dizia "É lua cheia, amor/Sai, dessa fossa", mas o quarto minguante no céu parecia desmentir a letra.
Uma das maiores decepções da noite foi a Porto da Pedra, que vinha de um quinto lugar no desfile do ano passado.
O enredo, que o carnavalesco Mauro Quintaes definira como "um grito de basta à roubalheira nacional", poderia render um desfile alegre, mas a escola de samba não transmitiu um mínimo de animação.

Arrastada
Mas arrastada mesmo foi a passagem da Vila Isabel. O enredo, sisudo -sobre o período histórico entre a queda do Império Romano e a Revolução Francesa-, foi acompanhado de um samba igualmente pesado, com versos como "O clero, a bem da verdade/Julgava o herege na Inquisição".
Numa noite tão morna, a Caprichosos de Pilares, com um enredo sobre o negro, pelo menos conseguiu dar bem o seu recado.
A escola deve ficar no Grupo Especial em 99.



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