São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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John Travolta vira boneco em Olinda

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Há quatro dias, personagens com mais de três metros de altura sobem e descem as ladeiras de Olinda, balançando seus braços ao som do frevo.
São os bonecos gigantes, foliões de isopor e fibra de vidro tradicionais na cidade, que têm como missão conduzir a multidão atrás dos blocos.
A passagem dos personagens é saudada pelos foliões. Os aplausos são retribuídos com evoluções e reverências. É um espetáculo que há seis anos tem seu auge na terça-feira de Carnaval, dia do encontro dos bonecos gigantes.
O evento, este ano, promete ser o maior já realizado, segundo o organizador da festa, o artista plástico Sílvio Botelho, 40. "Vamos reunir cem deles nas ruas."
Segundo o artista, criador de 350 dessas tradicionais figuras do Carnaval pernambucano, o desfile vai começar na Vila da Cohab e terá seu ponto alto na rua São Bento, principal foco de folia da cidade.
Dez novos bonecos foram confeccionados por Botelho este ano. Todas as figuras representam personagens conhecidos, mas não necessariamente de Pernambuco. Há bonecos de John Travolta e do monstro do lago Ness.
Os de Chico Science e do Chupa-Cabras, que deveriam desfilar este ano, não vão sair às ruas porque as encomendas foram canceladas, segundo Botelho.
De acordo com o livro "Os Gigantes Foliões em Pernambuco", do pesquisador Olímpio Bonald Neto, os bonecos surgiram na Europa, talvez na Idade Média.
Naquela época, diz o livro, os personagens desfilavam acompanhando procissões, cortejos populares ou comemorações locais.

Zé Pereira

Em Pernambuco, o primeiro boneco gigante surgiu em Belém do São Francisco, no sertão do Estado, em 1919 e foi batizado de Zé Pereira.
Em Olinda, o primeiro boneco gigante foi o Homem da Meia-Noite, criado em 1932 pelos irmãos Benedito e Sebastião Bernardino da Silva, dissidentes da troça carnavalesca mista Cariri. O nome do personagem fazia alusão ao nome de um seriado de cinema.
Os primeiros bonecos, de acordo com o artista plástico, pesavam cerca de 50 quilos e tinham estrutura de madeira e papel. Hoje, feitos de fibra e isopor, pesam cerca de 15 quilos.
Para confeccionar um personagem, Botelho utiliza 14 metros de tecido e precisa de uma semana de trabalho. Cada peça custa entre R$ 1.000 e R$ 5.000, dependendo do material usado. Só um homem, conhecido por chapeado, é responsável pela condução do boneco. A estrutura interna garante a movimentação do personagem e o equilíbrio do conjunto.



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