São Paulo, Sábado, 24 de Abril de 1999
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TROTE VIOLENTO
Sindicância da Faculdade de Medicina conclui que Edison Hsueh foi provavelmente empurrado para a piscina
USP descarta acidente em morte de aluno

da Reportagem Local

A hipótese de que a morte do estudante Edison Tsung-Chi Hsueh na piscina da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz tenha sido acidental está "praticamente descartada", segundo o diretor da Faculdade de Medicina da USP, Irineu Tadeu Velasco.
Em dois meses de investigações, a comissão de sindicância criada pela faculdade para apurar o caso chegou à conclusão de que Edison foi provavelmente empurrado.
"A probabilidade maior é que tenha havido realmente alguma ação de empurrar o calouro para dentro da piscina", disse Velasco.
A comissão chegou a essa conclusão "tecnicamente", baseada em três fatos: Edison não sabia nadar, não tinha bebido ou usado drogas e seus óculos foram achados no fundo piscina. Mas, assim como a polícia, não conseguiu encontrar ninguém que tenha testemunhado o que ocorreu.
Outra conclusão do relatório é de que "houve excessos" nos trotes. Velasco diz ter nomes de três a sete alunos que teriam "exagerado".
"O número não é preciso porque, quando você tem uma denúncia, tem que ouvir quem denunciou e o acusado e ver as circunstâncias em que ocorreram (os excessos). Algumas denúncias não eram pertinentes porque ficou provado que a pessoa estava em outro local."
O diretor não pretende divulgar os nomes dos suspeitos até o fim das investigações. Segundo ele, a identificação agora poderia comprometer a vida de pessoas que depois se revelassem inocentes. "Se forem culpados, eu não terei o mínimo problema em divulgar."
Os excessos relatados pela comissão vão de jogar tinta nos calouros a bater com colheres em suas cabeças, arrastá-los pelo chão e pisar em suas mãos. Velasco, entretanto, fez questão de deixar claro que nada foi encontrado que possa relacionar o excesso nos trotes com a morte de Edison.
Mesmo assim, afirmou que esses excessos serão punidos e que não é necessário que estejam relacionados à morte de Edison para justificar a expulsão de um aluno.
A comissão ouviu entre 20 e 25 alunos, previamente selecionados por terem sido apontados como pessoas que podiam dar informações. Segundo o diretor, a faculdade pode ter mais facilidade que a polícia em obter informações porque os alunos têm uma relação de confiança com os professores.
Agora, Velasco deve apresentar os resultados do relatório parcial da comissão de sindicância ao reitor da USP, Jacques Marcovitch, e ao Conselho Universitário. A partir de então, deve ser determinada uma comissão processual para continuar as investigações tanto sobre a morte de Edison quanto sobre os trotes e, se for o caso, punir os alunos envolvidos.


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