São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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Pesquisa inédita mostra relação entre doenças

DA REDAÇÃO

Uma pesquisa realizada no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, com 62 pacientes entre cinco e 16 anos, concluiu haver indícios de que pessoas que têm febre reumática são mais propensas geneticamente a desenvolver também transtornos obsessivo-compulsivos (TOC).
TOC é uma doença que atinge 2% da população mundial e é caracterizada principalmente pelo desenvolvimento de pensamentos obsessivos -que costumam provocar desconforto, ansiedade e angústia, como medo de pegar Aids, por exemplo- e de atos compulsivos -comportamentos repetitivos e intencionais para tentar afastar as obsessões.
"A pessoa obsessiva-compulsiva que tem medo de sua casa pegar fogo vai verificar diversas vezes antes de sair se o gás está fechado e ainda assim vai ter dúvidas do que fez. Esse pensamento interfere na vida dela e em outras atividades", afirma a psiquiatra e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP Ana Hounie.
O estudo, que foi concluído há um ano e meio, é o primeiro a revelar que crianças com febre reumática que não apresentam sintomas da coréia (movimentos involuntários da cabeça e de membros) também podem ter mais chance de sofrer de transtornos obsessivo-compulsivos.
Outros trabalhos haviam revelado maior probabilidade de incidência de casos de TOC em crianças que tenham febre reumática com sintomas de coréia.
"Nos Estados Unidos, um estudo mostrou que os sintomas obsessivo-compulsivos aparecem e pioram quando as crianças, mesmo sem sofrer de febre reumática, apresentam uma infecção estreptocócica", afirma o orientador da pesquisa, o psiquiatra da USP Euripedes Miguel.
De acordo com o médico, a conclusão do estudo na USP pode contribuir para uma mudança na forma de tratar portadores de transtornos obsessivo-compulsivos. Atualmente os tratamentos habituais, com antidepressivos e acompanhamento terapêutico, dão conta de melhorar os sintomas em cerca de 60% dos portadores dessa doença.
"Mas existe uma porcentagem significativa de pessoas para as quais os tratamentos habituais de TOC não resolvem", afirma.
Segundo Miguel, talvez, em alguns desses casos, o paciente sofra de um processo imunológico anormal (como pessoas que têm febre reumática) e, por isso, o tratamento possa ser voltado para a resposta imunológica, em vez do uso de antidepressivos.



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