São Paulo, sexta, 24 de julho de 1998

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Governo sabia de falsificações, diz Jatene

CIBELE BARBOSA
da Folha Ribeirão

O ex-ministro Adib Jatene disse ontem que, após sua saída da Saúde, o combate à falsificação de remédios "arrefeceu", apesar de o presidente Fernando Henrique Cardoso saber da existência do problema desde o início de 95.
"Estávamos reorganizando toda a Vigilância Sanitária. Essa era uma das prioridades que tínhamos no ministério. Depois, isso ficou um pouco arrefecido e só agora está sendo retomado com mais rigor", disse o ex-ministro.
Em visita a Ribeirão Preto, Jatene afirmou que o presidente sabia da existência de medicamentos falsificados e de laboratórios "fantasmas" no país pelo menos desde o início de 95.
Jatene tomou posse como ministro no dia 1º de janeiro de 95 e permaneceu no cargo até 5 de novembro de 96. Ele afirmou que o combate a essa prática era uma das prioridades de sua pasta.
"Toda a ação da Vigilância Sanitária (na fiscalização de laboratórios irregulares) que ativamos na época era pública e do conhecimento do presidente", disse.
O ex-ministro afirmou ter "atuado fortemente" no combate à falsificação de medicamentos, fechando cerca de 200 laboratórios farmacêuticos "fantasmas".
Jatene disse também que chegou a propor a criação de uma agência nacional de fiscalização. "Nós propusemos a criação da agência nacional, fiscalizamos todos os laboratórios e fechamos cerca de 200, a maioria "fantasma', que tinham autorização, mas que nunca funcionaram", afirmou.
Após a atuação de Jatene no Ministério da Saúde, passaram pelo posto José Carlos Seixas (interinamente, de 6 de novembro a 17 de dezembro de 96), Carlos César de Albuquerque (de 18 de dezembro de 96 a 23 de março de 98) e Barjas Negri (interinamente, de 24 a 30 de março deste ano).
O ex-ministro criticou também o trabalho da Vigilância Sanitária. "A falsificação de remédios é consequência de uma Vigilância incipiente de um lado e de uma perda de padrões éticos de outro. Precisamos retomar os padrões éticos e reativar a Vigilância", disse.
Jatene propôs algumas estratégias de combate às falsificações de medicamentos que, segundo ele, devem ser prioridade do governo.
"Eu acho que para combater a falsificação tem de se controlar a entrada de medicamentos não registrados no país, o que exige a Vigilância em portos, aeroportos e fronteiras." Ele também prega um maior controle da eficácia dos remédios por meio do aumento da capacidade do governo em analisar esses produtos. Jatene fez em Ribeirão uma palestra sobre novos modelos de Saúde.
Procurado pela Folha, o Ministério da Saúde não se pronunciou sobre as declarações de Jatene.



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