São Paulo, sexta, 24 de julho de 1998

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São Bernardo vive seu dia de faixa de Gaza

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha


Depois de assistir na TV às cenas do confronto entre a PM paulista e os moradores do loteamento clandestino do Jardim Falcão, em São Bernardo do Campo (Grande ABC), o cidadão de bem, que paga seus impostos em dia, deve ter chegado a uma triste conclusão: os moradores do edifício carioca Palace 2, que desabou meses atrás na Barra da Tijuca, são uma gente de sorte.
Ao menos, as vítimas do prédio construído pela empresa do ex-deputado Sérgio Naya não apanharam da PM feito bandidos, não correram risco de vida nas mãos da polícia, nem tiveram seus bens saqueados ou destruídos.
Policiais munidos de fuzis, revólveres, espingardas e bombas de gás lacrimogêneo, lutando contra civis armados de pedras, que eu saiba, é coisa que costumava ocorrer na faixa de Gaza.
E, mesmo assim, antes da assinatura do tratado de paz entre judeus e palestinos.
Agora que os palestinos controlam o seu próprio território, a despeito da eterna tensão que existe no local, esse tipo de barbaridade quase não acontece mais.
Palestino não iria atirar contra palestino.
Mas a nossa PM não observa nenhum código de honra.
Manda bala -de borracha, que seja-, sem pestanejar, em trabalhadores, mulheres e até crianças de colo.
A Intifada agora é aqui e acontece na porta das nossas casas. Ou quase.
Massacrar um bando de pobres coitados que pagaram pela casa o mesmo preço de um carro standard quatro portas é baba de ovo.
O que eu queria ver é se a nossa polícia teria a disposição de usar da mesma truculência contra os proprietários das milhares de construções sem habite-se que abundam nos bairros elegantes da cidade.
Ninguém duvida de que é uma temeridade construir ao lado dos mananciais. A qualidade da água que o paulistano consome que o diga.
Mas onde é que estava a Prefeitura de São Bernardo do Campo quando as casas do Jardim Falcão começaram a ser erguidas? Aposto um picolé de limão como estava ocupada com alguma eleição.
E que alternativa foi dada às vítimas dos vigaristas que venderam os terrenos, uma gente cujo único pecado foi ter ousado sonhar o mais brasileiro dos sonhos, o da casa própria?

QUALQUER NOTA

TFP
Ai, que saudades da época em que o cestinha Oscar Schmidt se limitava a jogar basquete! Agora que ele deu para abrir o bico, a gente é obrigada a constatar que o esportista faz o gênero tradição, família e propriedade. Só sentando no chão e chorando...

Para cima de moi, não!
Ora, ora. Se o lateral Roberto Carlos não sabe a diferença entre amarelar e ter um ataque de pânico, como é que ele aprendeu a distinguir convulsão de ataque epilético? Alô, Roberto Carlos! Vá subestimar a inteligência dos outros lá em Barcelona, meu caro!

Elegância
Batuta essa Jodie Foster. Teve o filho dela sem alugar a orelha do público, sem mentir, nem usar ninguém para fazer papel de pai de aluguel. Palmas para ela!


E-mail: barbara@uol.com.br




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