São Paulo, sexta, 24 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Remédio indicado para tratar hanseníase pode provocar má-formação do feto quando tomado por grávidas
"2ª geração talidomida' quer pensão do Estado

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

Uma segunda geração de vítimas da talidomida está pedindo, no Ministério Público Federal, que uma nova pensão seja criada e paga pelo Estado.
A Associação dos Portadores da Síndrome da Talidomida calcula que existem hoje no Brasil cerca de 80 vítimas da droga que nasceram depois dos anos 70. A maioria é fisicamente incapaz, consequência do uso incorreto do remédio por mulheres grávidas para tratar hanseníase.
Quando começou a ser comercializada, em 1956, a droga foi indicada para enjôos e náuseas. Entre o fim dos anos 50 e o início dos 60, ela foi responsável pelo nascimento de cerca de 15 mil crianças sem braços e sem pernas.
O princípio ativo da droga é a rifanpicina que interfere na evolução das células e, quando tomada na gravidez, pode causar encurtamento dos membros e má-formação dos órgãos do feto.
A descoberta dessa característica do remédio -o dano para o feto ocorre com a ingestão de apenas um comprimido no início da gravidez- fez com que a droga fosse controlada e totalmente proibida para mulheres durante a idade fértil no mundo todo.
No Brasil, a talidomida voltou a ser produzida nos anos 70 para ser usada principalmente para o tratamento de pessoas com hanseníase. Além dos efeitos benéficos do remédio na hanseníase, a talidomida é uma das drogas com efeitos mais positivos em alguns tipos de câncer e algumas infecções decorrentes da Aids.
Mas uma associação de má indicação do remédio pelo médicos com venda ilegal e falta de informação continua fazendo vítimas no país.
"Queremos a criação de uma pensão formal para ajudar essas pessoas. Muitas delas não conseguem andar ou segurar nada. Fica difícil conseguir um emprego", afirma Claudia Maximino, presidente do grupo que representa as vítimas.
A primeira geração de vítimas da talidomida recebe uma pensão que varia de 1 a 8 salários mínimos -de acordo com o nível de deformação da criança. A associação pede que seja criada uma nova pensão nos mesmos moldes da primeira.
Claudia afirma que sua prioridade é a pensão, mas diz que o Estado também poderia começar a cobrar mais dos reais culpados pelo problema. "Médicos que receitam e não acompanham o caso, pessoas que repassam o remédio ou mesmo mães que tomam sabendo do risco", afirma Claudia.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.