São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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ESTELIONATO
Vítima chegava a retirar carro novo em revenda, em crime sofisticado que pode ter rendido R$ 1 milhão
Grupo é acusado de golpe do carro 0 km

ROSANGELA DE MOURA
SANDRA AZEDO
free-lance para a Folha

Uma quadrilha especializada em enganar interessados na compra de carros zero-quilômetro, e que pode ter aplicado golpes no valor de R$ 1 milhão, foi presa anteontem pela polícia de São Paulo.
Embora precisasse contar com certa dose de ingenuidade dos compradores, o golpe era tão sofisticado que incluía a efetiva entrega do carro comprado às pessoas enganadas -muitas, profissionais de nível superior. Só depois o "proprietário" descobria que deveria devolver o carro e que havia perdido seu dinheiro.
A 1ª Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais) acusa Marcos Donizete Sabino, 33, os irmãos Jaime Mauri de Aguiar, 35, e Sidnei Aparecido de Aguiar, 28, e mais uma quarta pessoa -que escapou da prisão em flagrante- de integrar a quadrilha. Eles negam ter aplicado os golpes.
O delegado Manoel Camassa acredita que o grupo tenha feito mais de 20 vítimas por mês durante os 120 dias em que a polícia investigou o golpe. Se cada uma foi lesada em pelo menos R$ 13 mil (valor dos carros mais baratos "vendidos" pela quadrilha), o golpe rendeu mais de R$ 1 milhão.

Como funcionava
O grupo começava o golpe anunciando em classificados ofertas atrativas, como um Fiat Palio ELX ano 99, modelo 2000, por R$ 13 mil -vendido por cerca de R$ 15 mil nas revendas.
Quando a vítima ligava para o telefone anunciado -sempre um celular-, recebia explicação de que o negócio era legal, baseado em regalias com a montadora.
A conversa costumava ser convincente. O interessado tinha acesso a fotos e ficha técnica do carro e ainda era informado sobre qual a revenda e a data de entrega.
Eram enviados para o comprador, por fax, impressos falsos com a logomarca da montadora. A vítima informava seus dados pessoais e os do veículo desejado e devolvia a ficha, também por fax.
Ao mesmo tempo, o grupo negociava a compra do carro com uma concessionária. Depositava um cheque roubado na conta da empresa e falsificava um comprovante mostrando que o depósito havia sido feito em dinheiro.
O depósito aparecia no extrato da empresa, que demorava alguns dias para descobrir que havia sido feito com cheque roubado, não em dinheiro.
Nesse intervalo, o comprador recebia cópia do depósito falsificado, depositava seu próprio dinheiro em uma conta indicada pela quadrilha e retirava, feliz da vida, o carro novo na revenda.
Dias depois, a polícia procurava a vítima para reaver o veículo.


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