São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Pais pagam detetive para saber se filhos usam drogas

Joel Silva/Folha Imagem
O detetive Elian Faquinello filma, de dentro de um carro, alunos em ponto de ônibus, em Bauru


Cansados de interrogar os adolescentes, eles decidiram comprar as provas

Procura pelo serviço aumentou 50% nos últimos três anos, segundo os profissionais; 90% das suspeitas se confirmam

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Infiltrar um agente secreto no colégio do filho, instalar uma câmera oculta no quarto dele e contratar um detetive particular a fim de segui-lo.
Para ter certeza de que os adolescentes estão mesmo consumindo drogas e acabar com as dúvidas definitivamente, cada vez mais pais recorrem a serviços profissionais de investigação. Nos últimos três anos, afirmam os detetives, a procura aumentou cerca de 50%. O fato é que muitos pais, principalmente de meninos entre 14 e 17 anos, cansaram de interrogar seus filhos e decidiram comprar as provas.
Fotografias, vídeos e até escuta telefônica sãs as armas que precisam para tomar uma atitude e tentar afastá-los das drogas. "Quando um pai me procura, costuma estar desesperado. Ele já sabe que o filho consome entorpecentes, mas quer ter certeza e saber detalhes", conta Mário Biolada, detetive há quinze anos. Em 2005, ele abriu a Agência Brasileira de Investigações Confidenciais.
De acordo com Biolada e mais três detetives que fazem esse tipo de trabalho, mais de 90% das suspeitas acabam se confirmando ao longo das investigações.
"A família sabe o que está acontecendo, mas, como não consegue abordar o assunto, quer as provas para impedir que o adolescente negue", afirma Francisco Aguiar, da Philadelphia Investigações.
O detetive conta que a maioria dos pais ajuda nas investigações. "São eles que pedem para colocarmos câmeras escondidas em carros e quartos, monitorarmos o computador e o telefone e, até, infiltrarmos agentes nas escolas. Tudo para saber detalhes do que está acontecendo com o jovem."
O trabalho dos investigadores, porém, nem sempre é simples. Entrar em baladas, raves e shows sem que o equipamento de filmagem ou fotografia seja identificado e fazer flagras em banheiros ou dentro de carros requer habilidade e paciência. Uma investigação completa costuma durar entre 10 e 20 dias. Esse tipo de serviço custa, em média, R$ 3 mil.
"São casos trabalhosos porque as provas são difíceis de conseguir", diz Paulo Borges, da Detetives do Brasil. "Mas não são perigosos porque hoje o jovem não precisa mais ir até a boca comprar drogas. Elas vão até eles, muitas vezes levadas pelos próprios amigos."
Ecstasy é a droga do momento, usada principalmente à noite, em festas. Maconha, por ser mais barata, também é bastante consumida, geralmente durante o dia.
"Apesar de a maioria dos clientes ter filhos meninos, o número de famílias de meninas vem aumentando ano a ano", afirma Elian Faquinello, da Agência de Investigação Particular e Levantamento de Informações Reservadas.
Uma mistura de sexo e drogas envolvendo uma garota de 15 anos foi o caso mais chocante que Biolada já presenciou. Após consumir álcool e entorpecentes pesados, a menina se envolveu sexualmente com vários rapazes ao mesmo tempo.
"Foi uma cena triste, degradante. Eu pensava nos pais dela e tinha vontade de intervir, mas fiz minha parte. Entreguei as provas e a família decidiu como devia agir", afirma.

Sem interferência
O trabalho de um detetive acaba quando o relatório final é entregue à família. A partir daí, ele não pode mais se envolver nem dá palpites no caso.
"Não recomendamos tratamento nem orientamos sobre o que cada pai deve fazer porque é uma questão muito íntima, mas nos sentimos recompensados quando sabemos que um jovem deixou o vício", conta Faquinello. Sua recompensa veio há pouco tempo, quando soube que um dos jovens que investigou e também outro rapaz conseguiram se recuperar.
"Descobri que era um membro da própria família, rica e tradicional, quem passava drogas para o rapaz. Quando os parentes descobriram, colocaram os dois em tratamento. Agora, eles estão bem. O trabalho valeu à pena."


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