São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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"Ela achou abuso da minha parte, mas depois entendeu"

DA REPORTAGEM LOCAL

Sandra não podia falar a palavra "droga" que seu filho, com 15 anos em 2003, ficava violento. O adolescente se negava a conversar sobre o assunto e jurava que não consumia nenhum tipo de entorpecente. Mas a mãe tinha certeza de que era mentira. Resolveu contratar um detetive e viu sua suspeita comprovada. Assim como Sandra, Ana Maria, mãe de uma jovem de 16 anos, e Celso, pai de outra de 17, (todos os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados) viveram a mesma situação e recorreram ao serviço de investigação para ter em mãos a prova de suas desconfianças. Não se arrependem e hoje afirmam que seus filhos estão livres das drogas. A seguir, as entrevistas:

 

FOLHA - Como começou a suspeita de que seu filho estaria envolvido com drogas?
SANDRA
- Além de mudar o comportamento de forma radical, o encontramos caído na calçada em uma das vezes que chegou ruim em casa.
ANA MARIA - Ela chegava em casa muito transtornada e começou a nos tratar com desrespeito, o que não ocorria antes. Seu semblante também começou a mudar. Quando tocávamos no assunto, ela se levantava, virava as costas e saía aos berros.
CELSO - Minha filha mudou completamente o comportamento, não era mais aquele doce de menina. Não tratava mais a mãe com o respeito de antes e até a mim começou a tratar diferente. E olha que éramos muito amigos.

FOLHA - Por que você optou pelo serviço?
SANDRA
- Porque ele ficava muito violento quando eu tentava conversar sobre o assunto. Ele chegou até a me agredir, mas negava tudo, dizia apenas que a bebida o havia deixado ruim.
ANA MARIA - Por precisar saber o que estava acontecendo. Sempre quando conversávamos, a relação piorava pois ela sempre negava e dizia apenas que bebia cerveja.
CELSO - Não havia mais diálogo. Ela chegava em casa cada vez mais tarde, saía todas as sextas-feiras e, então, começou a sair outros dias da semana, dizendo que iria à casa de amigas. Eu tentava imaginar que pudesse ser outras coisas, não drogas. Foi muito chocante quando fiquei sabendo.

FOLHA - Que tipo de droga seu filho usava?
SANDRA
- Maconha.
ANA MARIA - Cocaína.
CELSO - Cocaína.

FOLHA - Que providências você tomou? Como ele está hoje?
SANDRA
- Internei meu filho durante oito meses em uma clínica. Hoje ele está bem, tem 18 anos, trabalha, acredito que nem pensa mais na droga.
ANA MARIA - Após provar que eu tinha certeza [de que usava drogas], conversamos na presença do pai dela e demos uma chance. Deixamos claro que, se não houvesse mudança, tomaríamos medidas mais drásticas. Hoje, ela tem 21 anos, está casada, tem um filho, vive feliz.
CELSO - Separei ela das amigas, e inicialmente impedi suas saídas de casa. Comecei a vigiá-la na entrada e saída do colégio. No começo, houve relutância por parte dela, dizia que tinha quase 18 anos e que eu não tinha o direito de impedi-la de passear. Com muita insistência, consegui fazê-la perceber o erro. Por sorte, agimos rápido. Ela estava no começo do uso das drogas. Passado quase um ano, comecei a dar para ela liberdade novamente.

FOLHA - Seu filho soube que foi investigado? Como reagiu?
SANDRA
- Contei a ele que contratei alguém, que gastei dinheiro com isso porque, para mim, ele era mais importante do que tudo. Ele não gostou muito, mas por ter conseguido superar o vício, esqueceu.
ANA MARIA - No começo, ela achou abuso da minha parte, mas depois entendeu bem.
CELSO - Não contei a ela que contratei um detetive. Disse que uma amiga havia contado. (DT)


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