São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Para terapeutas, medida revela falta de diálogo

DA REPORTAGEM LOCAL

Contratar um detetive particular para investigar o próprio filho é, para terapeutas e psicólogos, o primeiro sinal de que as famílias não sabem conversar e têm problemas de relacionamento.
Em boa parte dos casos, um diálogo franco, baseado na confiança entre pais e filhos, seria suficiente para descobrir se um jovem está ou não usando drogas. Mas nem sempre é assim.
"Contratar um detetive é um sintoma de que a família não se conhece e mostra o distanciamento entre pais e filhos", afirma o psicólogo Alexandre Saadeh, professor da PUC-SP. "Em alguns casos, pode até ser um ato desesperado do pai, que não sabe o que fazer, mas não é o caminho indicado."
O psicoterapeuta Luiz Cuschnir, no entanto, afirma que se o contato com os filhos não permite que os pais tenham informações suficientes sobre suas atividades e atitudes, contratar um investigador pode ser um dos recursos para se ter esses dados.
"Mas as informações dos detetives devem servir só para orientá-los e para que possam saber como lidar com o fato real, sem utilizá-las simplesmente para desmascarar o filho", diz.
O problema maior, quando se coloca um detetive para seguir o filho, está no momento em que o adolescente descobre que foi investigado. "Reestabelecer o vínculo se torna ainda mais difícil porque o jovem se sente traído justamente em um momento que precisa dos pais", diz Sandra Scivoletto, psiquiatra do HC especializada em álcool e drogas na adolescência.
Ele continua: "Antes de contratar um investigador, os pais deveriam buscar ajuda para eles mesmos e, assim, tentar vencer a dificuldade de diálogo."
Cuschnir faz um alerta: nem sempre é indicado que os pais contem sobre a investigação. "O importante é que a informação seja usada para traçar um plano de ação terapêutica imediata. Não para acusar o jovem."
O psicólogo Saadeh acha que os filhos não perdem a confiança nos pais por um motivo simples: "Quando um pai contrata um detetive, essa confiança não existe e, portanto, não pode ser perdida". (DT)


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