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Cidade de 70 casas está à venda em Minas
Vilarejo construído pela Cemig em 1970 para abrigar trabalhadores de hidrelétrica vai a leilão em março por, ao menos, R$ 6 mi
Vila possui hotel, igreja, escola, ambulatório, clube, lago para lazer, aeroporto, iluminação e asfalto, além de rede de água e esgoto
MARIA FERNANDA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
JOEL SILVA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Trancar as portas de casa ao
sair e usar cinto de segurança
enquanto dirige pelas ruas arborizadas. A rotina do engenheiro Nilton Braz, 48, seria
comum se ele não fosse o único
morador de um vilarejo com
jeitão de cidade no Estado de
Minas Gerais.
Esse lugar em que só o engenheiro vive foi colocado à venda em leilão por, no mínimo, R$
6 milhões. A venda deve acontecer em março de 2007.
A Vila Residencial Jaguara
pertence ao município de Sacramento, e fica a 10 km do centro. A "cidade" de Braz tem área
de 238 hectares -o equivalente
a 310 campos de futebol- , 70
casas de três e quatro quartos,
hotel, igreja, escola, ambulatório, clube, lago para lazer, aeroporto, infra-estrutura de água,
esgoto, asfalto e iluminação.
A vila foi construída em 1970
para abrigar trabalhadores da
usina hidrelétrica de Jaguara,
implantada pela Cemig (Companhia Energética de Minas
Gerais). Até a década de 90, cerca de 400 moradores faziam do
local uma verdadeira cidade,
mesmo sem ela aparecer no
mapa do Estado. Os moradores
nem precisavam sair de Jaguara para tratar da saúde, passear,
ir à igreja ou às compras.
Por um programa de incentivo da empresa, ainda na década
de 90, os moradores começaram a se mudar para cidades
próximas, como Uberaba, Rifaina e Sacramento, em busca
da casa própria. Desde então,
ninguém nada mais nas piscinas do clube, as casas estão fechadas, a igreja não tem mais
padre nem fiéis e o salão de festas não realiza mais bailes.
Mas o técnico industrial da
hidrelétrica Júlio César de Oliveira, 43, tem um bom motivo
para não esquecer de Jaguara:
ele se casou na igreja da vila em
1986. Antes, quando solteiro,
dividia uma casa de três quartos com outros amigos de trabalho. "Escolhi a igreja porque
era bonita e diferente."
Segundo o gerente regional
das usinas da Cemig, Márcio
José Peres, as vilas construídas
para abrigar os trabalhadores
foram perdendo a importância
com o passar dos anos, já que o
sistema de transporte público
evoluiu e os empregados hoje
podem ir para as usinas somente para trabalhar.
Em Jaguara, ninguém podia
escolher casa e não havia distinção de classe. Morar em uma
casa de três ou quatro quartos
só dependia do tamanho da família. Do operário ao diretor,
todos podiam usufruir dos espaços comuns.
"Ficava tudo cheio de barco,
as mulheres tomando sol e as
pessoas nadando no rio. Tinha
muita criança de bicicleta pelas
ruas. Quem vê isso aqui hoje
não imagina como era", afirma
Braz. Atualmente, apenas ele e
as 51 crianças que estudam na
escola rural, que fica na vila,
impedem que Jaguara se transforme numa cidade fantasma.
Infra-estrutura
Das 70 casas da Vila Residencial Jaguara, 46 têm três quartos, sala, copa, cozinha, varanda, garagem e banheiro social.
As outras 24 têm a mesma estrutura, mas são dotadas de
quatro quartos.
As casas não estão perfeitas
-algumas têm cupins, por
exemplo. Mas, uma pequena
reforma resolve o problema.
O clube tem quadra de peteca
-uma paixão de mineiros, segundo Braz-, salão de festas,
salão de jogos, duas piscinas
(uma de 25 m), churrasqueira e
uma quadra de basquete.
O hotel tem 17 apartamentos
e fica em frente ao lago. A escola tem dez salas de aula, cozinha e biblioteca. A igreja é um
templo ecumênico em formato
de pirâmide.
Leilão
A Vila Residencial Jaguara
vai a leilão pela segunda vez. A
primeira foi no ano passado,
mas não apareceram compradores. Segundo Braz, faltou divulgação para mostrar os benefícios que o empreendimento
pode trazer ao turismo.
Em outras vilas desativadas
pela Cemig, segundo o gerente
regional das usinas, Márcio José Peres, os imóveis foram vendidos separadamente.
A usina Jaguara está no quarto lugar do ranking da Cemig de
produção energética, com
424.000 kw.
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