São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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REMÉDIOS
Segundo a polícia, Daniel Derkacheff Vera é acusado de participar da falsificação de Androcur falso
Policia indicia sócio da Veado D'Ouro

CARLA CONTE
da Reportagem Local

A polícia de Santo André indiciou ontem um dos proprietários da farmácia de manipulação Botica Ao Veado D'Ouro Daniel Derkacheff Vera. Ele é acusado de participar da falsificação do Androcur -foram produzidos cerca de um milhão de comprimidos do remédio sem o princípio ativo.
Derkacheff disse que, apesar de ser um dos diretores, o laboratório Veafarm, pertencente à Botica e onde teriam sido produzidos os placebos, fica aos cuidados do outro sócio, Edgard Herbig, o qual não teria dito a ele nada sobre produção de placebo. "Nem sei se ele está a par disso."
O advogado de Herbig, Karlheinz Neumann, disse que o sócio vai se pronunciar hoje, após tomar conhecimento do inquérito.
Derkacheff afirmou que só tomou conhecimento que o laboratório Veafarm estava produzindo placebos em junho. Segundo o sócio, essa informação foi dada pelo farmacêutico Henrique Andrade, responsável técnico pelo laboratório, que teria se assustado com o escândalo do episódio do Androcur falso divulgado pela imprensa.
Derkacheff afirmou que só ligou o placebo ao Androcur há duas semanas. O remédio falso que chegou ao mercado, pode ter acelerado a morte de pelo menos dez pacientes que se tratavam de câncer de próstata.
Porém o sócio afirma que em junho mesmo determinou a destruição dos 100 mil placebos que ainda estavam na empresa. Esse lote não havia sido retirado pelo vendedor autônomo Élcio Pereira da Silva, que fez as encomendas ao ex-sócio da Botica, Ricardo Garcia, que está preso.
Garcia, que é genro de Derkacheff, foi preso na última segunda, após investigação da polícia, que fez o caminho inverso à distribuição de Androcur falso.
Garcia nega ter participado das negociações sobre a venda do placebo e diz nunca ter visto Élcio. Porém Élcio diz ter reconhecido Garcia na delegacia e que ele havia se apresentado como Fernando -e não como Ricardo.
A informação sobre destruição dos placebos coincide com o depoimento do farmacêutico Andrade, que disse à polícia que o diretor havia determinado a eliminação do material.
Derkacheff disse que a empresa está passando por uma auditoria interna para verificar eventuais falhas, como, por exemplo, a ausência de notas fiscais nas transações comerciais entre Garcia e Élcio.
O sócio confirmou informação da gerente de venda Iraci Rossi que uma nota fiscal chegou a ser destruída por determinação da diretoria. "Fizemos isso porque esse nota se referia aos 100 mil placebos que destruímos", diz.



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