São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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Médicos defendem notificação de DSTs

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Especialistas brasileiros reunidos ontem no 2º Congresso Internacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST in Rio 2), defenderam que todas as DSTs passem a ser obrigatoriamente notificadas pelos serviços de saúde.
Hoje, só a sífilis congênita e a Aids são de notificação obrigatória. Com isso, o Brasil não tem dados confiáveis sobre o número de pessoas infectadas por DSTs. Nos EUA, todas as DSTs são de notificação compulsória.
Estudos internacionais já mostraram a relação entre as doenças sexualmente transmissíveis e o HIV, vírus da Aids. As DSTs facilitariam a entrada ou saída do HIV durante uma relação sexual.
"Se eu não sei quantas pessoas estão doentes, como posso planejar políticas de saúde? É como fazer um orçamento doméstico sem saber quanto há na conta. Combater as DSTs é uma forma de reduzir o avanço da epidemia de Aids", disse o presidente do congresso e da Sociedade Brasileira de DSTs, Mauro Romero.
Na avaliação de Romero, a notificação tem que ser feita não só pelos serviços públicos, mas também pelos serviços particulares.
O representante da Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), Hugo Miyahira, e o diretor-executivo da Bemfam (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil), Ney Costa, concordaram com a necessidade de notificação compulsória das DSTs, mas disseram que a decisão não precisa ser apenas do governo federal.
"Pode ser iniciativa dos Estados ou municípios", disse Miyahira.
O Ministério da Saúde iniciou, em março do ano passado, um programa de vigilância aprimorada (experimental) de DSTs, feito apenas em algumas unidades de saúde, mas o projeto está aquém do esperado.
O ministério planeja cadastrar cem centros de referência e exigir deles as notificações de todos os casos de DSTs.
Eduardo Campos, assessor da Coordenação Nacional de DST/Aids, disse que, dos 73 centros cadastrados, só 23 enviaram as notificações.
Assim, desde o início do programa, os registros são apenas 6.300.
Fábio Moherdaui, também da Coordenação Nacional de DST/Aids, disse que um plano de vigilância universal para as DSTs só será possível no país quando as farmácias passarem a exigir receita médica dos clientes.
Por enquanto, disse, o ministério tenta melhorar o atendimento e concluir a implantação da vigilância aprimorada.
"Hoje, a DST é tratada no balcão da farmácia. Nos EUA a vigilância funciona porque a lei que obriga a retenção de receita é cumprida", afirmou Moherdaui.



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