|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pais usam os cadernos para fazer cigarros
da Agência Folha, em Jacundá
e em Nova Ipixuna (PA)
Cadernos doados aos estudantes da rede pública na zona rural
no sul do Pará estão virando fumaça nas mãos de pais de alunos,
que usam as folhas para confeccionar a "porronca", cigarros feitos com fumo de corda.
Na região de Marabá, o problema ficou tão grave que, além de
professores, secretarias municipais da Educação e até vereadores
foram obrigados a intervir.
Filhos de pais fumantes, segundo constataram as autoridades,
utilizam até duas vezes mais cadernos que os filhos de não-fumantes.
"Brochuras com 100 páginas ficam com 50 ou 60 em um mês",
disse a secretária da Educação de
Nova Ipixuna, Rosemere Fernandes de Resende.
A pobreza das famílias, a falta
de esclarecimento e a distância
entre as moradias e os centros urbanos são apontadas por Rosemere como as principais causas
do problema.
"Fizemos até uma reunião para
explicar que fumar o caderno das
crianças prejudicava o aprendizado delas", disse Rosemere.
"Um pai de aluno ficou furioso e
tirou o garoto da escola."
O menino só voltou a estudar 15
dias depois. Para convencer o pai,
a secretária foi obrigada a ir até a
casa do estudante, localizada a
cerca de 50 quilômetros da cidade, acompanhada de vereadores.
Os alunos reclamam da atitude
dos pais e alguns escondem os
materiais escolares em casa.
"Guardo meu caderno no meio
dos livros, porque ele começou a
ficar fino", disse Ralmany Ribeiro
de Santana, 14, aluno da 4ª série
da escola "Altamira 7", em Nova
Ipixuna.
Sua colega Elesandra Lima dos
Santos, 11, que cursa a 2ª série na
mesma escola, também esconde
o material do pai para poder estudar. "Eu pedia para ele não fumar
meu caderno, mas não adiantava
nada", afirmou.
O caderno de Elesandra, de 12
matérias e 144 páginas, tem hoje
cerca de 70 páginas. Com a ajuda
da mãe, que não é fumante, ela
guarda hoje o que restou do material debaixo da cama.
Segundo a menina, a tática funcionou. "O pai ficou nervoso e
quando foi para a cidade fazer
compras trouxe um caderno só
para ele", disse.
Elesandra e Ralmany são filhos
de lavradores. Moram no meio de
uma floresta, a cerca de 80 quilômetros da cidade. No local não há
transporte coletivo e as viagens
dependem de caronas oferecidas
por madeireiros da região.
(FÁ BIO GUIBU)
Texto Anterior: Ambiente escolar influencia rendimento Próximo Texto: Local administrativo é mais valorizado Índice
|