São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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SAÚDE

Acupuntura, meditação e ioga já são indicadas por médicos contra dores, ansiedade e estresse da gestação

Pré-natal inclui práticas alternativas

DA REPORTAGEM LOCAL

Acupuntura, meditação e ioga. Juntas ou isoladas, essas práticas estão indo além da opção pessoal das grávidas para se tornarem uma indicação médica no alívio de cefaléias, dores musculares e náuseas e na diminuição da ansiedade e do estresse do período.
No caso da acupuntura, a OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece os benefícios da técnica chinesa no tratamento de dores nas costas, queixa mais freqüente na gestação, e na estimulação da produção de leite em mães com dificuldade de amamentar. A prática é reconhecida como especialidade médica no Brasil desde 1995.
Uma das razões que levam médicos alopatas a reconhecer os benefícios das práticas chinesas e hindu na gestação são alguns estudos recentes. Um deles, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), indicou que a acupuntura reduziu as queixas de transtornos emocionais e dores nas costas e no baixo-ventre na gestação.
Outra pesquisa -a primeira do gênero no Brasil- da mesma universidade está avaliando o impacto da meditação durante a gravidez (leia texto nesta página).
Para a ginecologista Mary Nakamura, chefe do Departamento de Obstetrícia da Unifesp, aos poucos os médicos alopatas estão deixando de enxergar a acupuntura como algo esotérico e reconhecendo sua importância no alívio de dores e tensão na gravidez. "Muitos ainda indicam só quando há a patologia instalada [dor nas costas, por exemplo]", diz. No início e no fim da gestação, há restrição ao uso de antiinflamatórios, antibióticos e analgésicos.
Hoje, vários serviços públicos de saúde, como os hospitais das Clínicas e São Paulo (ligado à Unifesp), já oferecem gratuitamente acupuntura às grávidas. Mas, de acordo com Nakamura, ainda existe certa resistência das mulheres. O temor das agulhas e a falta de condições de deslocamento até o hospital seriam os principais fatores da falta de adesão à terapia.
Diferentemente das agulhas de injeção, as usadas na acupuntura têm ponta arredondada e a aplicação é quase indolor. Mas, para aquelas grávidas que não se convencem disso, pode-se usar pequenas ventosas que provocam sucção ou adesivos ligados a eletrodos, segundo o médico Hong Jin Pai, chefe da equipe de acupuntura do Centro de Dor do Hospital das Clínicas paulistano.
Na opinião de Pai, a acupuntura na gravidez é um complemento do pré-natal, uma prática segura e efetiva para os desconfortos da gravidez, mas sempre deve ser feita com aval do obstetra. Ele diz que, para evitar que qualquer complicação na gravidez seja atribuída à acupuntura, desaconselha a introdução das agulhas na região do baixo-ventre e em alguns pontos das mãos e pernas.
O ginecologista Roberto Cardoso, que coordena o estudo sobre meditação na Unifesp, diz que a idéia é que a prática seja integrada ao sistema público de saúde. "Muitos obstetras já orientam as pacientes a praticar a meditação pois acreditam nos benefícios."
Segundo Edmund Chada Baracat, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), os obstetras reconhecem os benefícios da acupuntura na gravidez, mas a preferência ainda é solucionar possíveis problemas pelas vias tradicionais, indicando remédios.
Se a opção for a acupuntura, Baracat diz que as gestantes devem sempre procurar médicos com formação em acupuntura e indicados pelo obstetra. Para ele, os benefícios da meditação e da ioga na gravidez ainda não são claros.
Na opinião da ginecologista Lílian Fumie Takeda, especialista em medicina tradicional chinesa, a meditação ensina técnicas que ajudam a lidar com estresse e ansiedade e trazem à grávida clareza e foco. "A meditação ajuda a reduzir o medo que a mulher sente em relação ao parto e a preocupação com a saúde do bebê", afirma.
A ioga promete benefícios muito semelhantes à meditação, com exercícios posturais, de respiração e concentração. Segundo a professora de kundalini ioga Renata Uliani, as posturas alongam e tonificam os músculos, evitando que a gestante tenha os movimentos restritos no fim da gravidez.
Além disso, explica Renata, os exercícios relaxam as articulações, ativam a circulação, aumentando a oxigenação do organismo, e ampliam a flexibilidade corporal, o que é essencial para a gestante se adaptar com mais facilidade às mudanças físicas e conseguir manter-se equilibrada diante das alterações hormonais.
"Com o aumento da barriga, o ponto de equilíbrio da grávida se desloca para a frente, forçando alguns músculos que ela não costuma usar. E as costelas também sofrem um deslocamento, o que causa dor lombar e nas costas."
A física Francisca Brasileiro, 26, grávida de 17 semanas e praticante de ioga há quatro anos, afirma que tem feito na ioga exercícios específicos para a região pélvica, o que tem ajudado a "soltar" essa musculatura. "Além disso, é o momento do dia em que mais sinto o bebê." (CLÁUDIA COLLUCCI)

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