São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

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OPINIÃO ESTAÇÕES DE METRÔ

Sociedade deve exigir desenhos melhores

Para ocultar o concreto, optou-se por combinações que não se comunicam


EMBORA EXIGIR ESTÉTICA POSSA PARECER MESQUINHARIA, A BOA ARQUITETURA TRAZ QUALIDADE DE VIDA


FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma estação de metrô pode e deve ter arquitetura. Tanto dentro, na qualidade espacial, quanto fora, na relação que cria com a cidade.
Esse resultado pode ser de alto nível, como em projetos no exterior criados por renomados profissionais como Norman Foster e Álvaro Siza.
E mesmo em São Paulo, o arquiteto Marcello Fragelli formou uma geração de competentes técnicos que desenharam as primeiras estações de metrô. Com erros e acertos, sua obra ainda desperta interesse. Hoje, o departamento de
arquitetura do Metrô mantém equipe capaz de criar desenhos tecnicamente corretos e esteticamente aceitáveis. E as novas estações paulistanas têm como virtude a presença da luz natural. O ponto negativo, contudo, fica evidente na linha 4. O detalhamento dos projetos, de responsabilidade do consórcio que a construiu e que irá operar o trecho, não possuem qualidade arquitetônica equivalente aos demais.
A entrada da estação do largo da Batata, por exemplo, parece uma guarita desenhada por aluno do primeiro ano da faculdade. Já as estações Paulista e Fradique Coutinho são volumetricamente grandes demais e carecem de uso de materiais adequados para diminuir seu impacto visual em meio ao tecido urbano. Outro exemplo é a estação da Luz, cujo interior não tem sofisticação arquitetônica.
Para ocultar a predominância do concreto, optou-se por uma combinação de materiais e cores que visualmente não se comunicam. A concretagem apressada para a entrega da obra também tornou instalações elétricas projetadas para serem embutidas em aparentes.
E a aridez da praça de acesso é indigna de um Estado onde nasceram Burle Marx e Rosa Kliass.
Devemos ainda assim comemorar as inaugurações. E embora exigir estética neste contexto possa parecer mesquinharia, a boa arquitetura traz qualidade de vida ao usuário, mesmo que ele não se dê conta.
Nos consórcios, falta um mecanismo que garanta a qualidade dos projetos de arquitetura. Se o governo não se importa com o assunto, a sociedade deve exigir desenhos melhores. Ou alguém acha que não merecemos?


FERNANDO SERAPIÃO é crítico de arquitetura e editor-executivo da revista "Projeto Design"


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