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Excursões ao exterior constrangem pais de alunos
Não obrigatórios, passeios culturais de escolas chegam a custar R$ 10 mil
China, Europa, México e Israel são destinos; programações visam ensinar conteúdo "in loco" aos estudantes
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
Neste ano, Bruno Cruz experimentou quitutes como escorpião, cobra e cavalo marinho. Viu de perto usinas de carvão e conheceu ainda estudantes de várias partes do mundo enquanto colocava em prática seu mandarim.
Com apenas 15 anos, ele fez uma viagem em julho, com outros alunos do colégio onde estuda, o Sidarta, na Granja Viana (Grande SP).
O passeio cultural foi organizado pela escola, assim como acontece em outros colégios particulares, que estão oferecendo viagens cada vez mais interessantes (e caras) para seus estudantes.
A de Bruno saiu US$ 6.000 (algo em torno de R$ 10 mil).
O objetivo é que eles aprendam "in loco" conteúdos de disciplinas como história, conheçam culturas e pratiquem outras línguas.
Apesar de não serem, na maior parte das vezes, passeios obrigatórios, alguns pais afirmam se sentir "constrangidos" com a situação.
Na Carlitos, região central de SP, que oferecia uma viagem à França para estudantes de 12/13 anos, um grupo de pais se revoltou ano passado: disse à escola considerar "absurda" a proposta, que custava R$ 6.300. A escola cancelou a atividade.
Os destinos oferecidos pelas escolas são bem variados.
No colégio I.L. Peretz, na zona sul de SP, as idas promovidas anualmente para países importantes para o povo judeu sai em torno de R$ 7 mil. A escola já organizou viagens para Polônia, Madrid, Praga e Amsterdã, todas seguidas de Israel.
No Santa Cruz, na zona oeste da cidade, um grupo de alunos voltou no último feriado do México. Ficaram no país nove dias, a um custo de R$ 6.500. Foram conhecer regiões importantes das civilizações pré-colombianas, mesmo propósito de viagens anteriores, feitas ao Peru.
"É um diferencial do colégio", diz o aluno Luiz Azevedo, 17, que foi para o Acre com a turma do curso de "Ética e Cidadania" da escola.
O Santa Cruz também faz viagens para o Canadá, para o estudo da língua inglesa. O destino também é oferecido pela Lourenço Castanho, na zona sul, ao lado de Inglaterra e locais como Brasília.
"A viagem não é obrigatória, mas a gente se sente constrangido em não mandar os filhos. A gente sabe que todo ano tem e se programa", diz José Azevedo Neto, 49, pai de aluna da escola.
A arquiteta Eliane Coelho, 51, concorda. "Sempre achei as viagens interessantes. Mas, de certa forma, a gente se sente impelido a participar. Se não for, seu filho fica por fora", diz a mãe de Filipe, 15, que gastou R$ 1.800 em uma viagem de cinco dias à Ouro Preto neste ano na escola Viva, zona sul de SP.
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