São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

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ANÁLISE EXCURSÕES AO EXTERIOR

Olhar para além dos muros é um desafio

Educação do jovem deve desenvolver a responsabilidade pelo bem comum contra o apelo ao individualismo


VIAGENS SÃO ATRAENTES. MAS, DISPENDIOSAS, TRANSFORMAM-SE EM ELEMENTO DE DESGASTE NA RELAÇÃO FAMILIAR E ENTRE COLEGAS


ROSELI FISCHMANN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Relacionar o que se passa na escola, com o que há para além de seus muros, é intrínseco à atividade escolar. Como articular o ensinamento teórico com vivências que lhe deem sentido?
No passado, a ousadia era levar os alunos a cidades históricas de Minas Gerais: de ônibus, em percursos sem conforto, por onde se iniciava a aprendizagem do Brasil.
Com a globalização, chegaram pressões para a internacionalização. As escolas particulares buscam vantagem competitiva, já que a dignidade dos objetivos educacionais não altera a realidade de mercado.
Na escola particular, a diversidade seria aparentemente menor do que na escola pública. Mas há pais que empenham alta porcentagem do salário, convictos de dar "o melhor" para os filhos.
Viagens são atraentes. Mas, dispendiosas, transformam-se em elemento de desgaste na relação familiar e entre colegas de classe, trazendo conflitos íntimos. Como expor o jovem a ter de justificar a impossibilidade de participar?
A frustração pode fazer parecer irrisório o esforço dos pais, para quem oferecer a escola já é sacrifício.
Ver-se excluído gerará desconforto, por mais que os colegas procurem poupar o jovem; cotizarem-se para suprir a "incapacidade" familiar, só acentuará o quadro. Mas o que esperar da escola, pública e privada, neste país de desigualdade escandalosa, onde discriminação e racismo são acobertados?
Para ultrapassar os muros da escola, a educação do jovem cidadão precisa incluir a consciência de como lidar com esse quadro, e desenvolver sua responsabilidade pelo bem comum, contra o apelo do individualismo de obter o máximo para si, ainda que resultando em mais desigualdade e exclusão.


ROSELI FISCHMANN é professora da pós-graduação em Educação da USP e da Universidade Metodista de São Paulo.


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