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Lei prevê que vítima pague advogado
DA REPORTAGEM LOCAL
A investigação policial e o processo judicial de um estupro são
diferentes em relação à maioria
dos crimes. Considerada uma
ação civil privada, apesar de ser
um crime hediondo, a apuração
estabelece, por exemplo, que as
despesas com o advogado de acusação sejam assumidas pela própria vítima. Se a vítima não tiver
condições financeiras e quiser
processar seu agressor mesmo assim, a acusação é assumida pelo
Ministério Público, segundo o advogado Luiz Flávio Gomes, doutor em direito penal.
"Funciona quase como uma
ação na esfera cível", afirmou Gomes. Se o agressor, mesmo condenado, não tiver dinheiro para pagar as custas do processo, é a vítima que vai ter de arcar com os honorários de seu advogado.
A investigação continua a cargo
da polícia, como em todos os outros crimes, mas depende de autorização da vítima para prosseguir. Não existe um consenso sobre a necessidade ou não dessa
autorização nem entre especialistas nem entre as ONGs.
"Confesso que ainda não cheguei a uma conclusão. A abertura
automática de inquérito garante
mais Justiça, mas a vítima também tem de ser respeitada nesses
casos", afirmou Maria das Graças
Perera de Mello, presidente da
Comissão da Mulher Advogada
da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil). Luiz Flávio Gomes defende a permanência da possibilidade de escolha da vítima, mas
considera que todos os casos devem ser assumidos pelo Ministério Público. "A ação privada, que
estipula que a vítima apresente
um advogado, também é um fator
constrangedor", disse.
Para Maria Amélia de Almeida
Teles, da União de Mulheres de
São Paulo, mais importante do
que mudar a legislação é dar mais
condições para que as vítimas
possam "optar com consciência".
"A mulher precisa ter informações jurídicas para definir o que é
melhor para ela."
Márcia Salgado, do setor técnico de apoio às as Delegacias de
Defesa da Mulher, nega que a exigência de pagamento do advogado por parte da vítima seja um fator de desistência. "A legislação
fala que o custo dos honorários
não pode privar a vítima do que é
essencial para sua sobrevivência."
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