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JUSTIÇA
Processo administrativo vai avaliar conduta de magistrado, que alega que a superlotação nas carceragens cria condições desumanas
Tribunal afasta juiz que soltou condenados
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A Corte Superior do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais, por unanimidade, afastou ontem das suas
funções o juiz Livingsthon José
Machado, da Vara de Execuções
Criminais de Contagem (MG). A
Corte também abriu processo administrativo que avaliará a conduta dele.
Anteontem, pela terceira vez, o
magistrado determinou a soltura
de presos condenados, mesmo
após decisão liminar do TJ, da semana passada, que o proibia de
promover novas libertações.
O juiz alega que a superlotação
nas carceragens das delegacias de
Contagem criam condições desumanas e insalubres para os presos. Ele quer que os condenados
sejam transferidos para penitenciárias, mas faltam vagas.
A Corte, formada pelos 25 desembargadores mais antigos do
TJ-MG (são 117 no total), tomou a
decisão baseada na representação
contra o juiz apresentada pelo
corregedor-geral de Justiça, desembargador Roney Oliveira.
Desde a semana passada, a Corregedoria já havia instaurado procedimento interno para avaliar os
atos de Machado.
Procurado pela Folha, a informação no gabinete do juiz é que
ele não iria se pronunciar.
Segundo o TJ, o afastamento é
imediato. Significa que Machado
fica sem nenhuma atribuição. Um
outro juiz da Vara de Execuções
Criminais de Contagem já foi nomeado para exercer as funções do
juiz investigado.
No processo administrativo, será indicado um relator, que, após
dar amplo direito de resposta a
Machado, remeterá o relatório
para julgamento pela Corte. Não
há prazo determinado.
O juiz está sujeito às seguintes
punições: aposentadoria compulsória, remoção para outra comarca, disponibilidade compulsória
até aparecer vaga em outra comarca e demissão.
Uma comissão da Procuradoria
Geral de Justiça, a quem compete
oferecer denúncia contra magistrados, também avalia os atos de
Machado.
Por três vezes, Machado determinou a soltura de presos. Há
duas semanas, ele expediu alvará
de soltura para 16 detentos.
Condenados por crimes como
homicídio, furto e assalto à mão
armada, todos saíram pela porta
da frente da delegacia.
O governo de Minas recorreu ao
TJ e obteve liminar dois dias depois, quando os presos já estavam
nas ruas. Novos mandados de prisão foram expedidos, mas apenas
4 dos 16 voltaram para a prisão.
Na semana passada, foram mais
36 alvarás expedidos. Só que a Polícia Civil retardou o cumprimento, mantendo os presos na delegacia até que o Tribunal de Justiça
concedesse nova liminar, que
proibisse novas solturas.
No entendimento do TJ, do Ministério Público e da seção mineira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o direito dos presos é reconhecido, mas a libertação deles fere o direito coletivo da
população de não conviver com
presos condenados.
Anteontem, ele solicitou a presença no fórum de sete condenados por assalto e tráfico de drogas.
Escoltados pela Polícia Militar, os
presos se apresentaram e receberam a notícia da libertação. Agindo assim, evitou eventual retardamento das medidas por parte da
Polícia Civil.
"Até os presos ficaram surpresos", disse o sargento Antônio
Carlos Ávila, um dos PMs que faziam a escolta.
Até as 18h ainda não havia no TJ
decisão sobre o novo pedido de liminar feito pelo Estado para
prender novamente os sete condenados libertados.
Mais vagas
Na semana passada, a Secretaria
de Defesa Social de Minas afirmou ter ampliado o sistema penitenciário neste ano, o que fez cair
para 4.700 o déficit de vagas para
presos que cumprem pena em
unidades da Polícia Civil.
A pasta disse ainda que abrirá
3.540 vagas até março de 2006.
Até lá, segundo a secretaria, cinco
novas penitenciárias estarão em
funcionamento e centros provisórios serão ampliados.
Questionada sobre esse número, a secretaria não soube precisar
se 4.700 é a quantidade exata de
condenados em delegacias.
O motivo é que houve transferências de detentos entre unidades da secretaria e da Polícia Civil.
Além disso, muitos presos que já
foram condenados permanecem
em delegacias porque estão
aguardando para serem julgados
em outros processos.
Reforço policial
Na manhã de ontem, em Contagem, o clima instalado era de uma
grande perseguição policial. Mas
era apenas uma medida de prevenção determinada pelo comando da Polícia Militar, que deslocou cerca de 150 homens para o
município. Eles se somaram aos
cerca de 90 PMs que fazem o policiamento rotineiro na cidade.
Por volta das 9h30, os policiais
foram às ruas, e alguns veículos
saíram do 18º Batalhão com sirenes ligadas. Na porta do Fórum de
Contagem, onde o juiz trabalha,
PMs e cães faziam a guarda do
prédio. A justificativa era coibir
eventuais protestos contra a decisão de Machado.
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