São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

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POLÍCIA FEDERAL

Delegado que presidiu inquérito afirma que não houve testemunhas ou provas que indicassem a autoria

Ninguém é indiciado por morte após tortura

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de o inquérito da Polícia Federal ter concluído que o auxiliar de cozinha Antônio Gonçalves de Abreu foi espancado e torturado no dia 7 de setembro na Superintendência da PF no Rio, nenhum policial federal foi indiciado por participação no crime. Abreu morreu no dia seguinte, vítima de traumatismo craniano.
O delegado federal Paulo Iung, que presidiu o inquérito, disse que, mesmo tendo sido comprovada a tortura de Abreu, ninguém pôde ser indiciado porque não houve testemunha do espancamento e nem provas técnicas que permitissem apontar os autores.
Quatro policiais foram indiciados no inquérito por tortura, mas pelo espancamento de Samuel Dias de Cerqueira -preso junto com Abreu-, que sobreviveu e reconheceu os agressores.
Juntamente com Abreu e Márcio Cerqueira Gomes, Cerqueira foi preso sob acusação de ter participado do assassinato do policial federal Gustavo Mayer Moreira.
Na semana passada, a PF informara que quatro policiais foram indiciados pela tortura de Abreu. Ao perceber o erro, decidiu convocar uma entrevista coletiva ontem para esclarecer os fatos.
O futuro secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, considerou "absurda" a conclusão do inquérito. Para ele, está havendo "um acobertamento" entre os policiais que estavam de plantão naquele dia.
De acordo com Iung, os presos disseram ter ficado em celas separadas e que não viram o auxiliar de cozinha ser espancado. Já os policiais sustentaram a versão de que Abreu foi morto após uma briga com Cerqueira.
O superintendente da PF no Rio, Marcelo Itagiba, disse que "o resultado do inquérito não foi o ideal, mas o possível a ser apurado". Ele afirmou, no entanto, que caberá ao Ministério Público Federal solicitar novas investigações sobre o caso, se considerar necessário.

Maranhão
O Ministério Público, a Defensoria Pública do Maranhão e a entidade civil Centro de Justiça Global denunciaram o governo do Estado à ONU (Organização das Nações Unidas) pela demora na apuração de uma denúncia de tortura de pelo menos 65 presos ocorrida no dia 24 de novembro.
Procurado ontem por telefone, o gerente da Segurança Pública, Raimundo Cutrim, não foi localizado.


Colaborou a Agência Folha


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