São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

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SEM-TETO

Município tem segundo incêndio em favela em apenas três dias; chega a 2.100 o número de pessoas desabrigadas

Fogo destrói 200 barracos em São Paulo

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Barracos da favela da avenida Zaki Narchi (zona norte) que foram atingidos por um incêndio ontem


DA REPORTAGEM LOCAL

Um segundo incêndio em favela em apenas três dias deixou cerca de mil desabrigados e 14 feridos ontem em São Paulo. A maioria dos casos atendidos foi de intoxicação pela fumaça. Com isso, aumentou para 2.100 o número de pessoas sem-teto na capital em ocorrências desse tipo.
Na madrugada de sábado, o fogo consumiu 300 barracos da favela Paraguai, na zona leste de São Paulo, deixando 1.115 moradores desabrigados, de acordo com cadastramento da prefeitura. Uma pessoa morreu carbonizada.
Ontem, por volta das 16h30, um outro incêndio atingiu a favela da avenida Zaki Narchi, na zona norte da capital, destruindo uma área de aproximadamente 1.400 metros quadrados e 200 barracos, segundo o Corpo de Bombeiros.
Não se sabe a causa do fogo na favela. Vizinhos ajudaram a carregar móveis, geladeiras e roupas. Tudo ficou amontoado no meio da avenida Zaki Narchi, que teve de ser interditada. ""Começou no meio da favela e foi muito rápido", disse a dona-de-casa Marilene Ramos de Oliveira Santos, que conseguiu salvar o fogão, a máquina de lavar e algumas roupas.
A mesma favela pegou fogo em outubro de 2000. Na época, mais de 400 pessoas ficaram desabrigadas. ""O incêndio de agora foi muito pior", afirmou o coronel Wagner Ferrari, comandante do Corpo de Bombeiros, que participou das duas operações na favela.
Os bombeiros levaram duas horas para controlar o fogo. O vento forte e o material dos barracos -madeira- facilitaram a propagação do incêndio. Faltaram hidrantes perto da favela.
Ontem, os desabrigados fizeram cadastro no Iprem (Instituto de Previdência do Município de São Paulo) e seriam distribuídos em três escolas públicas da região.
A Polícia Militar doou cerca de 2.000 marmitex aos moradores e empresários estavam procurando a prefeitura para fazer doações às famílias. ""Não deu tempo de tirar nada de casa, nem os presentes das crianças", afirmou a ajudante de limpeza Joana Inês Ferreira da Silva, 30, que ainda estava pagando pelo barraco destruído.
De acordo com a Subprefeitura de Santana e o Corpo de Bombeiros, moradores da favela estavam para receber treinamento de brigada de incêndio. ""Hoje (ontem), engenheiros passaram por aqui para verificar onde seriam colocados extintores (24)", afirmou Hélvio Moisés, subprefeito.
Em 2000, após o incêndio, a favela quase foi desativada. Há 606 barracos cadastrados na favela, onde vivem entre 2.000 e 3.000 pessoas, segundo a prefeitura.
Segundo Moisés, o município estava cumprindo um cronograma que previa dois anos. ""Agora vamos ter de fazer isso mais rapidamente", disse ontem.
A favela foi construída em uma área do município, ao lado de um córrego. A prefeitura planejava, de acordo com Moisés, resolver o problema da posse da terra nessa área e, paralelamente a isso, providenciar a saída das famílias.
Não se sabe ainda qual será o destino dos desabrigados.
No caso da favela Paraguai, a prefeitura tenta negociar a construção de casas com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do governo do Estado. O mesmo poderia ser feito com a favela Zaki Narchi, segundo o subprefeito.


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