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SP 450
Aniversário do bairro, que ganhou esse nome em comemoração dos quatro séculos de fundação da capital, faz parte do calendário oficial
IV Centenário faz festa só para a vizinhança
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1954, quando São Paulo
completava 400 anos, os anjos e os
santos aterrissaram nas proximidades de um porto de areia, lá pelas extremidades da zona sul, e começaram a multiplicar as casas,
que dariam vida ao bairro que viria a se chamar IV Centenário, em
comemoração dos quatro séculos
de fundação da capital do Estado.
Hoje, enquanto a cidade festeja
os 450 anos com glamour e nomes de famosos, o bairro faz uma
festa apenas com a vizinhança.
Um projeto do vereador Carlos
Gianazzi (PT), aprovado em 2003
pela Câmara, assinalou no calendário oficial da cidade que o dia 25
de janeiro passa a ser, também,
Dia do Jardim IV Centenário.
A comemoração hoje será em
um palco bem menor do que o
montado pela prefeitura para os
astros Rita Lee, Titãs e Maria Rita,
no vale do Anhangabaú. No palanque bairrista, grupos de pagode e forró da comunidade. Os moradores mais antigos e comerciantes serão homenageados.
Dona Maria do Carmo Santos,
75, é de uma das famílias fundadoras do bairro. Emocionada, ela
lembra que o marido, o bancário
José Jesuíno dos Santos, morto há
oito anos, ficou sabendo que haveria um loteamento no lugar e
decidiu mudar-se de Pedreira,
também na zona sul. O investimento foi um sacrifício que, hoje,
ela avalia que valeu a pena. Para
trabalhar, ele tinha de caminhar
mais de 30 minutos até o bairro
mais próximo, Cidade Dutra
-que completou 54 anos ontem-, para tomar uma condução. Se chovia, o IV Centenário virava um atoleiro. E viver num local quase desabitado, sem água e
luz, dava medo. "Uma vez fui
obrigada a chamar uma vizinha
para dormir comigo e meus filhos
porque estava com medo."
A comerciante Ivani Solovjovas
dos Anjos, 45, é de uma das famílias pioneiras do bairro. Ela nasceu com o auxílio de uma parteira, em casa, cinco anos após o pai,
o pedreiro Dervani dos Anjos,
instalar-se no bairro. Ela é uma
historiadora amadora da região.
Enquanto prepara um café em
seu bar, mostra a ata de fundação
da Sociedade dos Amigos do Jardim IV Centenário, em 17 de
agosto de 1960. Lá estão os nomes
dos primeiros moradores: Ventura dos Santos, Dervani dos Anjos... Hoje, a sociedade é só um
terreno abandonado. Ela está reunindo fotografias antigas da região. "Meu pai construiu a maioria das casas do bairro."
Outros parentes dela, como tios
e primos, também se mudaram
para o então bairro novo, há 50
anos. "Aqui era um terreno só,
que foi dividido em lotes depois",
diz seu primo Luiz dos Anjos, 47.
O IV Centenário é um bairro
sem saída. Pequeno, ele tem como
limite geográfico um grande terreno da Eletropaulo. O porto de
areia já não existe mais. As ruas
são asfaltadas e duas favelas, a São
Francisco e a Cheba, integraram-se à rotina do lugar. Um conjunto
habitacional com 262 apartamentos complementa as moradias.
O principal problema é o transporte. O ferramenteiro aposentado Jorge Luiz Machado Reis, 52,
que há 45 anos vive lá, reclama da
dificuldade de locomoção. Para ir
ao centro da cidade, só há um ônibus. Demora mais de duas horas
para chegar ao destino, tempo
que separa os moradores da festança do aniversário da cidade.
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