São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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SP 450

Aniversário do bairro, que ganhou esse nome em comemoração dos quatro séculos de fundação da capital, faz parte do calendário oficial

IV Centenário faz festa só para a vizinhança

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1954, quando São Paulo completava 400 anos, os anjos e os santos aterrissaram nas proximidades de um porto de areia, lá pelas extremidades da zona sul, e começaram a multiplicar as casas, que dariam vida ao bairro que viria a se chamar IV Centenário, em comemoração dos quatro séculos de fundação da capital do Estado.
Hoje, enquanto a cidade festeja os 450 anos com glamour e nomes de famosos, o bairro faz uma festa apenas com a vizinhança. Um projeto do vereador Carlos Gianazzi (PT), aprovado em 2003 pela Câmara, assinalou no calendário oficial da cidade que o dia 25 de janeiro passa a ser, também, Dia do Jardim IV Centenário.
A comemoração hoje será em um palco bem menor do que o montado pela prefeitura para os astros Rita Lee, Titãs e Maria Rita, no vale do Anhangabaú. No palanque bairrista, grupos de pagode e forró da comunidade. Os moradores mais antigos e comerciantes serão homenageados.
Dona Maria do Carmo Santos, 75, é de uma das famílias fundadoras do bairro. Emocionada, ela lembra que o marido, o bancário José Jesuíno dos Santos, morto há oito anos, ficou sabendo que haveria um loteamento no lugar e decidiu mudar-se de Pedreira, também na zona sul. O investimento foi um sacrifício que, hoje, ela avalia que valeu a pena. Para trabalhar, ele tinha de caminhar mais de 30 minutos até o bairro mais próximo, Cidade Dutra -que completou 54 anos ontem-, para tomar uma condução. Se chovia, o IV Centenário virava um atoleiro. E viver num local quase desabitado, sem água e luz, dava medo. "Uma vez fui obrigada a chamar uma vizinha para dormir comigo e meus filhos porque estava com medo."
A comerciante Ivani Solovjovas dos Anjos, 45, é de uma das famílias pioneiras do bairro. Ela nasceu com o auxílio de uma parteira, em casa, cinco anos após o pai, o pedreiro Dervani dos Anjos, instalar-se no bairro. Ela é uma historiadora amadora da região. Enquanto prepara um café em seu bar, mostra a ata de fundação da Sociedade dos Amigos do Jardim IV Centenário, em 17 de agosto de 1960. Lá estão os nomes dos primeiros moradores: Ventura dos Santos, Dervani dos Anjos... Hoje, a sociedade é só um terreno abandonado. Ela está reunindo fotografias antigas da região. "Meu pai construiu a maioria das casas do bairro."
Outros parentes dela, como tios e primos, também se mudaram para o então bairro novo, há 50 anos. "Aqui era um terreno só, que foi dividido em lotes depois", diz seu primo Luiz dos Anjos, 47.
O IV Centenário é um bairro sem saída. Pequeno, ele tem como limite geográfico um grande terreno da Eletropaulo. O porto de areia já não existe mais. As ruas são asfaltadas e duas favelas, a São Francisco e a Cheba, integraram-se à rotina do lugar. Um conjunto habitacional com 262 apartamentos complementa as moradias.
O principal problema é o transporte. O ferramenteiro aposentado Jorge Luiz Machado Reis, 52, que há 45 anos vive lá, reclama da dificuldade de locomoção. Para ir ao centro da cidade, só há um ônibus. Demora mais de duas horas para chegar ao destino, tempo que separa os moradores da festança do aniversário da cidade.



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