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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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CAOS NO RIO

Para a governadora, há no governo federal gente que quer desestabilizá-la; seu marido diz ter o apoio de Brasília

Rosinha ataca e Garotinho afaga o Planalto

Ernesto Carriço/Agência O Dia
Josias Quintal e Rosinha, em inauguração de Delegacia Legal


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Enquanto em Brasília o futuro secretário de Segurança, Anthony Garotinho, prometia trabalhar em conjunto com o governo federal, no Rio a governadora Rosinha Matheus (PSB) fazia um discurso repleto de ataques ao Planalto. Ela afirmou que não vai permitir que "avacalhem" seu governo.
Sem citar nomes, disse que "algumas pessoas" do governo federal estão "fazendo intriga" contra a sua administração por não aceitarem o fato de ter ganho no primeiro turno as eleições estaduais. A principal adversária de Rosinha na disputa foi a petista Benedita da Silva, atual ministra da Assistência e Promoção Social.
O discurso da governadora foi feito na inauguração de uma delegacia em Piraí, a 80 km do Rio, e foi o primeiro após o anúncio da nomeação de Garotinho, seu marido, para substituir Josias Quintal no cargo de secretário de Segurança Pública. A nomeação do ex-governador aconteceu em meio ao recrudescimento de ações violentas do narcotráfico no Estado.
Por sua vez, em Brasília, depois de se encontrar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Garotinho confirmou o "alinhamento" à política nacional de segurança, afirmando que o Estado vai aderir ao Susp (Sistema Único de Segurança Pública) do governo federal, atualmente em fase de implementação. Após o encontro, o ex-governador baixou o tom das críticas sobre a gestão da atual ministra Benedita da Silva, no governo do Rio no ano passado.
"Agora não vem ao caso dizer se a culpa [da onda de violência" é da Benedita ou se a culpa é da Rosinha [Matheus". A responsabilidade é minha, deixa comigo."
A Folha apurou que o ministério acompanha com cautela os primeiros passos do ex-governador na área. A pasta teme a politização do cargo por Garotinho, que já afirmou anteriormente ambicionar a sucessão presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
Já Rosinha, em seu discurso, sempre sem citar nomes e poupando o ministro Thomaz Bastos, criticou a notícia, publicada há seis dias pela Folha, de que o governo federal cogitava, em uma hipótese extrema, intervir no comando da segurança no Rio.
"Em vez de algumas pessoas fazerem intriga pela imprensa para desestabilizar o meu governo, se o governo federal realmente estivesse fazendo parcerias, essas pessoas não teriam tempo para intriga", disse a governadora.
"Quando vocês forem ler o jornal, procurem se o que está lá está na boca de alguém. Colocam apenas "fontes do Planalto", mas não aparece ninguém assumindo que irá fazer intervenção. Para mim, ou a matéria é sensacionalista ou a pessoa que não pode aparecer é covarde. Ou eu vou acreditar nas informações secretas ou vou acreditar nas palavras do ministro da Justiça, que desmentiu a informação. Eu prefiro acreditar no ministro", disse Rosinha.
Segundo Garotinho, a intenção de intervir no Estado foi negada oficialmente pelo ministro. O ex-governador atribuiu a idéia a "vozes ocultas" do governo federal.
Para Rosinha, há uma predisposição contra o seu governo. De novo sem citar nomes, afirmou que "os principais jornais de outros Estados" superdimensionam a crise na segurança do Rio.
"É estranho quando os principais jornais de outros Estados deixam de colocar a criminalidade dos Estados deles, que não é menor do que a nossa, para abrir manchetes com os crimes daqui. Isso me parece orquestrado."
A governadora disse ter também informações de que há gente no governo federal interessada em prejudicar o Rio.
"Se for para não assumir, eu também tenho informações de que tudo isso [as notícias contra seu governo" são articulações para tirar os Jogos Pan-Americanos [que acontecerão em 2007" do Rio. Eu também tenho informações de que o Congresso da ONU não acontecerá aqui por dedo de gente do governo federal, para poder dizer que foi por causa da instabilidade na segurança. Eu também tenho informações, mas não é assim que a gente faz."
São mentirosas, segundo sua versão, as notícias que diziam que ela rejeitava aderir ao Susp.
"O projeto não foi nem apresentado para mim, e eles dizem que eu não quero o recurso. Foi dito pelo ministro que o efetivo da Polícia Federal iria dobrar, e eu acredito nele. Mas isso ainda não aconteceu. Se eu, como governadora, posso dar um tempo para o governo federal, será que eu também não preciso de um tempo?"
O superintendente da Polícia Federal no Rio, Marcelo Itagiba, não quis confirmar o convite para atuar com Garotinho. A Folha apurou que o convite já foi feito.
Sobre a atuação na secretaria, Garotinho disse que não haverá plano emergencial para combater a violência no Estado. Na próxima semana, o ministério deve receber o plano de segurança pública apresentado pelo PSB na campanha presidencial do ano passado. O plano é bem visto pela equipe técnica da União. Em audiência pública no Senado, de que Bastos participou após se encontrar com Garotinho, o ministro afirmou que o governo pensa em liberar R$ 40 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública para o Estado. A liberação de verba está condicionada à adesão ao Susp.
De início, Garotinho afirmou que pretende reforçar as delegacias especializadas, investir em modernização das polícias, modernizar o setor de inteligência e reativar o programa "Reservistas pela paz", que recruta jovens reservistas para trabalhos internos na PM. A Folha apurou que a iniciativa é criticada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.


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