São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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URBANISMO

Experiências de recuperação de áreas degradadas em Barcelona e Milão são referências para projeto paulistano

Espanha e Itália inspiram o Bairro Novo

DA REPORTAGEM LOCAL

O planejamento urbanístico que a Prefeitura de São Paulo busca com o concurso Bairro Novo tem como referência experiências praticadas na Espanha e na Itália na década de 90. No Brasil, a Prefeitura de Santo André (Grande São Paulo) iniciou em 1999 uma ação semelhante, para reorganizar a ocupação do eixo metropolitano da avenida dos Estados. O projeto foi batizado de "Eixo Tamanduatehy".
A inspiração espanhola se deve principalmente à reformulação pela qual passou Barcelona para receber as Olimpíadas de 92. Um grande eixo da cidade foi reformulado, abrigando novos prédios, praças e equipamentos, além de um redesenho urbano.
"Precisamos ponderar que eles trabalham com uma escala bem menor lá, pelo tamanho da cidade em relação a São Paulo. Mas existe um bairro chamado Poblenou que foi totalmente reformulado. Existia uma série de galpões industriais antigos que foram modificados. Numa parte desse bairro se construiu a Vila Olímpica, que depois foi bem integrada à cidade e ao porto", afirma José Magalhães Júnior, diretor de projetos urbanos da Secretaria Municipal de Planejamento.
Na Itália, um projeto de reestruturação foi feito em Milão, num bairro chamado Biboca, diz Magalhães Júnior. "Lá, era um terreno da Pirelli que quando foi abandonado também passou por uma reformulação e ganhou novos usos e habitações", afirma.
De acordo com Paulo Sophia, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em São Paulo, a experiência dos arquitetos espanhóis é bem conhecida no mundo todo, o que pode fazer com que um arquiteto de lá seja convidado para participar do júri do concurso. "Eles conseguiram implantar com qualidade um mix de usos. Reformularam o porto e abriram a cidade para o mar. Outra característica espanhola é a construção de praças, que eles privilegiam muito", diz.
Das intervenções brasileiras, a que mais se aproxima do proposto em São Paulo é o "Eixo Tamanduatehy", em Santo André. Em 1999, uma equipe de arquitetos brasileiros e estrangeiros foi chamada para pensar projetos para a área 1,20 milhão de m2. A idéia era, ao longo dos anos, viabilizar a implantação das propostas- assim como a Prefeitura de São Paulo pretende fazer.
O time foi formado pelo catalão Jordi Borja, autor de projetos de reurbanização de Barcelona, o francês Christian de Portzamparc, autor da Cidade da Música, em Paris, o espanhol Eduardo Leira, que fez projetos de revitalização em Madri, e o catalão Joan Busquets, autor do projeto de reestruturação de Puerto Madero, em Buenos Aires. A equipe brasileira foi coordenada por Cândido Malta, professor da FAU/USP.
Nos últimos cinco anos, foram construídos no local duas universidade, um pólo de serviços e comércio da Pirelli, um shopping center, três conjuntos habitacionais e um terminal de ônibus. A prefeitura abriu novas avenidas e uma praça, além de outras iniciativas feitas em parceria, como reformas de equipamentos.
"Analisando hoje, vemos que lá a prefeitura ainda não assumiu toda a grandeza das propostas feitas. Ela está muito tímida diante do que foi proposto. Está um pouco ainda a reboque do mercado. Falta uma tradição das prefeituras em lidar com o planejamento", diz Cândido Malta.
(SIMONE IWASSO)


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