São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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TRANSPORTES

Trechos urbanos superam rodovias em assaltos a caminhões; crimes ocorrem mais nos dias úteis, pela manhã

Roubo de carga cresce dentro de cidades

DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem dos roubos de carga sempre esteve associada à atuação de quadrilhas especializadas nas estradas do Brasil. Mas estatísticas da entidade que reúne as transportadoras em São Paulo mostram que esse problema tem crescido principalmente nos trechos urbanos -e que os ataques aos caminhões se concentram nos dias úteis e à luz do dia.
De 2000 a 2003, enquanto os roubos de carga nas rodovias paulistas diminuíram 14%, as ocorrências subiram praticamente 7% na capital paulista e 55% no restante da região metropolitana.
A quantidade de assaltos dentro das cidades supera a das estradas de São Paulo, segundo os registros do Setcesp (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região), que tem um setor especializado em receber as informações das empresas, seguradoras e autônomos para detalhar esse tipo de crime.
Nas rodovias, a média em 2003 beirou dois roubos de carga por dia. No restante do Estado, atingiu cinco casos diários, sendo três nas ruas da capital paulista.
A redução das ocorrências nas estradas está ligada aos investimentos das transportadoras em sistemas de gerenciamento de riscos (como monitoramento dos caminhões por satélite), segundo Paulo Roberto Souza, coronel que é responsável pela assessoria de segurança do Setcesp.
Mesmo com a queda na quantidade de casos nas rodovias, apenas no ano passado as empresas do setor tiveram uma perda próxima de R$ 194 milhões com as cargas roubadas em São Paulo.

Porte
Embora em menor escala, os roubos de carga nas rodovias paulistas centralizam as preocupações porque costumam envolver veículos maiores, com grande quantidade de cargas e valores.
"Nas cidades, os roubos são de menor porte, é mais fácil absorver os prejuízos", afirma Norival de Almeida Silva, presidente do sindicato que representa os caminhoneiros autônomos do transporte de carga. Silva já teve sua carga roubada quando estacionou seu caminhão em um posto de gasolina na beira da estrada.
O avanço das ocorrências nos trechos urbanos, porém, é considerado preocupante porque, além de contribuir para encarecer fretes e produtos, elas podem envolver a população que está nas ruas -até por se dar, muitas vezes, em áreas movimentadas durante as entregas de mercadoria.
As estatísticas do Setcesp apontam que o horário das 6h às 10h e as terças e quartas-feiras são os períodos mais visados pelos assaltantes de carga. Os produtos alimentícios são os mais roubados. Na capital paulista, as zonas leste (35,04%) e sul (23,08%) predominam no total de ocorrências -mas, em pleno centro, há um roubo de carga a cada três dias.
Os ataques urbanos também acabam facilitados por haver menos esquemas de proteção a esses veículos. A explicação é simples: como os valores dessas entregas costumam ser menores, muitas vezes não compensa adotar esquemas sofisticados de segurança, cujos custos são altos.
Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado), diz que nas ruas da capital paulista os roubos são facilitados também pela velocidade dos caminhões -reduzida, principalmente quando eles vão passar em uma lombada ou parar em um semáforo. "Eles conseguem subir na boléia e atacar os motoristas", afirma Bittencourt.
O coronel Souza diz que, diferentemente do que acontece nas estradas, os assaltos em trechos urbanos nem sempre são feitos por quadrilhas especializadas. "Muitas vezes é um crime de oportunidade", afirma.
As exceções ficam por conta da invasão de armazéns, que costumam concentrar os produtos que serão distribuídos. Somente em 2003, foram 108 crimes desse tipo.


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