São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998

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SEM ÁGUA
Meteorologistas prevêem chuvas significativas apenas em 99; Pernambuco teve 65% menos chuva que a média
Seca no NE é a maior dos últimos 15 anos

ANDRÉ MUGGIATI
da Reportagem Local

A seca que atinge o Nordeste é a maior dos últimos 15 anos, comparável apenas à seca de 83, segundo o CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais.
Segundo o CPTEC a situação na região tende a se agravar, uma vez que a ocorrência de chuvas significativas está prevista apenas para o ano que vem.
De acordo com medições feitas pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), todos os Estados do Nordeste estão sendo afetados pela seca.
O mais atingido é Pernambuco, que recebeu apenas 35% das chuvas que costuma receber, em média, entre fevereiro e abril. Na maioria dos Estados, a redução é de cerca de 50%, em relação à média histórica de chuvas.
De acordo com o meteorologista do CPTEC Prakky Sathiamurth, ainda não é possível avaliar se a seca deste ano é mais intensa que a de 83. "Isso só será possível dentro de dois meses", diz.
O período entre fevereiro e maio é caracterizado pela estação chuvosa nas regiões semi-áridas do Nordeste. As chuvas desta época são utilizadas para viabilizar a produção agrícola e o estoque de água para o resto do ano.
A esse período segue-se outro, tradicionalmente seco. Com a diminuição das chuvas no início do ano, a situação se agrava, pois não há produção agrícola e falta água.
A gravidade da seca é associada pelos meteorologistas à intensidade do fenômeno climático El Niño deste ano, considerado o mais forte do século.
O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico na costa da América do Sul e dura dois anos. O atual El Niño começou em 97.
No Nordeste, há o deslocamento da nebulosidade e as chuvas para o norte, impedindo que elas atinjam a região. Além da seca no Nordeste, o El Niño deverá aumentar as chuvas no Sul do país, principalmente em Santa Catarina.
Até este ano, o El Niño mais intenso havia sido o de 82 e 83. Em 83, foi registrada a mais grave seca no Nordeste, até então.
Naquele ano, as chuvas no sul do Brasil, Argentina e Paraguai causaram 240 mortes, com 600 mil desabrigados e prejuízo aproximado de US$ 3 bilhões.
O El Niño atual também está associado a secas nos Estados Unidos, África, Austrália, Indonésia e América Central. Já houve enchentes na Europa, Ásia e na América do Sul. Tempestades no Peru já mataram centenas de pessoas.



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