São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998

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Preso acusado de matar pai que defendeu filhas

MARCELO GODOY
da Reportagem Local

Uma denúncia anônima levou à prisão do homem que disse ter matado o pai que se atirou na frente das filhas pequenas para protegê-las de um assaltante encapuzado que ameaçava matá-las.
Carlos Eduardo Custódio da Silva, 23, o "Coió", negou que tivesse intenção de matar as meninas. "É mentira. Jamais ia fazer uma coisa dessas." Silva disse que atirou porque o pai reagiu. "Ele tentou tomar a arma da minha mão."
O outro acusado do assalto, Antônio Givacildo Ferreira, 20, o "Toinho", permanece foragido. O crime ocorreu na quarta-feira, às 20h30, na rua Wilson Pereira de Almeida, no Jardim Jabaquara (zona sudoeste de São Paulo).
Dois assaltantes renderam o analista econômico-financeiro Luiz Eduardo Ferraz de Camargo, 42, quando ele chegava à sua casa. A dupla entrou no sobrado, dominou a mulher e as duas filhas de Ferraz e apanhou duas TVs e dois videocassetes no sobrado.
Quando se preparavam para sair da casa do analista, que fica próxima à favela Beira Rio, mandaram que Luiz Eduardo os acompanhasse. Mas as filhas da vítima, Fernanda, 6, e Heloísa, 8, começaram a chorar, a gritar e a chamar o pai.
Um dos ladrões apontou para as meninas. "Ele ia atirar. Tenho certeza disso", disse Mayumi Okamoto Ferraz de Camargo, 44, mulher do analista. Luiz Eduardo entrou na frente das filhas e o ladrão disparou, acertando duas balas no peito e outra na cabeça dele.
Os assaltantes fugiram no Gol do analista, abandonado pouco depois ao lado da favela.
Denúncia
Anteontem, alguém ligou para o disque-PM (0800-555-190) e fez uma denúncia. Informou que o assassino do analista tinha o apelido de Coió e morava na avenida Hélio Lobo, na favela Beira Rio.
O serviço reservado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) foi ao local e descobriu dois outros endereços na mesma avenida nos quais o suspeito poderia estar. À noite, foi preparada a operação para detê-lo.
Ao todo 24 PMs, três carros da Rota e três do 2º Batalhão de Choque, cercaram os endereços. "O rapaz tentou fugir pelos fundos de uma das casas", disse o aspirante Luiz Augusto Branco, da Rota.
Silva voltou para casa e se trancou no quarto com a mulher e o filho de 11 meses. Após a PM bater cinco minutos na porta, a mulher abriu-a com o filho no colo. Silva estava na cama, como se dormisse.
Duas TVs e um dos videocassetes roubados estavam na casa de Alex Sandro Silva de Souza, 20, cunhado de Silva, que foi detido. Os objetos foram reconhecidos pela mulher do analista. Mayumi também reconheceu Ferreira, o outro acusado do crime, por meio de uma foto -só Silva usava capuz durante o assalto.
A Divisão de Homicídios fez o exame residuográfico na mão direita do preso e achou partículas de chumbo, o que indicaria que ele usou recentemente um revólver.
O delegado Luiz Eduardo Marturano pediu a decretação da prisão temporária dos dois acusados. Segundo ele, Silva confessou o crime ao depor e disse que tudo foi planejado por Ferreira, que descobrira o horário em que o analista sempre chegava do trabalho.
"Eles tinham só uma arma, um revólver calibre 38, que pertencia a Ferreira", disse o delegado. A arma não foi achada. Silva afirmou que não iam levar o analista como refém, que só queriam que ele abrisse o portão automático da garagem, mas a vítima reagiu.



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