|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Exame inútil eleva
custo nos hospitais
da Reportagem Local
"O desperdício nos hospitais é
grande, e a principal fonte de desperdício está ligada à corporação
médica e a um sistema que acaba
estimulando o acúmulo de procedimentos com um paciente, o que
encarece o atendimento e, em alguns casos, aumenta a remuneração do médico."
A afirmação é do administrador
da Santa Casa de Leme (190 km a
noroeste de SP), Paulo Cesar
Amadeu, para quem está na hora
de descobrir fórmulas capazes de
reduzir o corporativismo dos médicos ou que ele seja usado em benefício de uma melhor utilização
dos recursos da saúde.
"O instrumento mais caro do
hospital é a caneta do médico",
costuma dizer o doutor José Roberto Ferraro, diretor do Hospital
São Paulo, que atende 4.500 pacientes do SUS todos os dias. Entre
60% e 80% dos exames requisitados dão resultado negativo, de
acordo com vários levantamentos,
o que indica que existe um excesso
de requisições desse tipo, sem a
necessária base médica.
Tanto a Santa Casa de Leme como o Hospital São Paulo (que pertence à Universidade Federal de
São Paulo) enfrentam graves dificuldades financeiras, com prejuízos à qualidade dos serviços.
Reengenharia
Mas há experiências felizes, como a da Santa Casa de Limeira,
que está no 3º ano de uma reengenharia hospitalar iniciada a partir
da decisão de duas indústrias ali
instaladas: a Varga e a Rockwell
Fumagali.
Acostumadas à cultura da qualidade total, as duas empresas decidiram liderar uma grande coalizão
social na cidade para interromper
a derrocada da Santa Casa.
Gilberto Scarazati, 43, médico-administrador, conselheiro do
CRM, foi contratado. Ele realizou
uma auditoria e traçou um plano
estratégico de cinco anos para
reerguer o hospital.
A auditoria constatou um quadro comum a pelo menos 300 das
412 Santas Casas existentes no Estado. As diversas áreas do hospital
estavam dominadas por famílias:
só eram contratados membros
desses clãs, geralmente mal pagos
e sem qualificação.
O hospital tinha 350 leitos em
que os pacientes eram abrigados
sem meios de assistência tão simples quanto um ressuscitador.
Mesmo assim, a dívida chegava a
R$ 1 milhão, o dobro da renda
mensal.
A espinha dorsal do plano de investimentos foi estabelecer parcerias estratégicas com os maiores
clientes do hospital, o SUS e os
planos de saúde.
Para dar o primeiro passo, eram
necessários R$ 300 mil para refazer a unidade de emergência
-que estava em situação pior do
que a dos doentes que recebia. O
Estado entrou com R$ 200 mil, a
Unimed local, com R$ 40 mil. As
prefeituras vizinhas com o resto.
Acertos semelhantes serviram
para renovar e ampliar o centro cirúrgico, a UTI e o centro obstétrico. Agora falta a conclusão de outro centro obstétrico, de unidades
de apoio técnico (como laboratórios de análises clínicas) e a montagem de unidades especializadas
em procedimentos de alta complexidade e alto custo.
O hospital, que antes do plano
tinha 80% de funcionários leigos,
hoje tem 73% de profissionais formados. A relação com os médicos
foi alterada, todos foram contratados, direitos foram concedidos, e
as obrigações, cobradas. As prescrições médicas passaram a ser regulamentadas e auditadas.
Em 95, antes do plano, o gasto
com medicamento e material era
de R$ 240 mil mensais. Hoje, é de
R$ 177 mil, embora o número de
atendimentos tenha crescido, assim como sua complexidade: só a
UTI passou de 6 para 32 leitos.
O resultado do trabalho na Santa
Casa, que atende 73% dos seus
clientes pelo SUS, já pode ser medido pelos índices. A mortalidade
infantil caiu em Limeira de 21
mortes por 1.000 nascidos vivos
para 17 por 1.000. O diretor acha
que 75% da queda resulta das inovações introduzidas na gestão do
seu hospital.
(MVS)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|