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OPINIÃO
Sou homossexual e me orgulho disso
MARIA IZABEL DA SILVA
O dia 28 de junho foi adotado
como Dia Internacional do Orgulho Gay e Lésbico em função da
rebelião promovida por gays e travestis em Nova York no ano de
1969. Naquela data, uma sexta-feira, a polícia tentou interditar um
bar frequentado por homossexuais -o Stonewall Inn- sob a
alegação de descumprimento da
lei que regia a venda de bebidas alcoólicas. Pela primeira vez na história, os homossexuais reagiram e
lutaram para se defender. A morte
de Judy Garland (um companheiro), no dia anterior, intensificava a
revolta.
O conflito deixou como saldo
vários feridos, garrafadas e resistências à prisão.
"Sou homossexual e me orgulho disso", passaram a frisar, durante os anos, os manifestantes
que lançaram, junto com a data
comemorativa, um movimento
pelos direitos civis dos homossexuais, lésbicas, travestis e transexuais.
San Francisco, Paris e Londres
são algumas das cidades que organizam paradas de orgulho gay em
torno do 28 de junho.
No Brasil, as primeiras iniciativas voltadas para um movimento
homossexual surgiram no eixo
Rio-São Paulo, na segunda metade
da década de 70, com a fundação
do jornal "Lampião da Esquina"
e do grupo Somos.
No início da década de 80, organizaram-se grupos por todo o
país, que desempenharam importante papel na luta pelos direitos
humanos e civis dos homossexuais.
Na segunda metade da década,
esses grupos foram fundamentais
na proposição de respostas à sociedade civil sobre a epidemia da
Aids, que atingia majoritariamente os gays.
As comemorações brasileiras do
28 de junho, no entanto, são recentes. Foram assumidas a partir
de 1996, aqui em São Paulo. Em
1997, a 1ª Parada do Orgulho GLT
(Gays, Lésbicas e Travestis) reuniu
cerca de 2.000 pessoas, entre vários artistas e personalidades, que
levantaram o tema "Estamos em
Todos os Lugares e em Todas as
Profissões".
A 2ª Parada do Orgulho GLT
percorre de novo o circuito avenida Paulista-praça Roosevelt este
ano. A atividade começa às 14h,
em frente ao prédio da Gazeta. A
manifestação quer chamar a atenção para o fato de que nós -gays,
lésbicas ou travestis- somos sujeitos com direitos e exigimos da
sociedade tratamento igual. Nossa
opção sexual não nos faz diferentes dos demais cidadãos. Exatamente por isso, não podemos admitir nem a violência policial nem
a homofobia que presenciamos
frequentemente em nossos bairros, cidades, Estados.
Também não podemos admitir
de forma alguma a discriminação
nos locais de trabalho. O movimento sindical cutista não deve ficar indiferente à realidade vivida
pelos trabalhadores e trabalhadoras que têm como opção sexual
parceiros do mesmo sexo.
Assim como as resoluções que
tiramos em nossos congressos
pregam a luta pela igualdade de
oportunidades para as mulheres e
contra a discriminação racial no
mercado de trabalho, devemos
nos lançar à criação de uma política voltada para a questão da homossexualidade.
Qualquer pessoa sensata há de
concordar que o preconceito sobre uma trabalhadora negra e lésbica é triplo. Se um trabalhador
for negro e gay, então, está perdido. É vítima de todo e qualquer tipo de piada e chacota.
Romper dentro de cada um de
nós o próprio preconceito e fazer
com que a Central Única dos Trabalhadores se preocupe, de fato,
com toda a classe trabalhadora
(independente de raça, sexo ou
opção sexual) é o que proponho
que este 28 de junho signifique para todos os que miram o horizonte
em busca de um país socialmente
justo e capaz de fazer valer o exercício da liberdade de expressão e
de opção sexual.
Para isso, convido você a participar da 2ª Parada do Orgulho GLT.
E, quem sabe, no próximo ano
possamos falar em GLTS (Gays,
Lésbicas, Travestis e Simpatizantes).
Maria Izabel da Silva, 33, é secretária de Políticas Sociais da CUT São Paulo
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