São Paulo, quinta, 25 de junho de 1998

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Primeira mulher a chefiar a Faculdade de Direito da USP busca aproximação com comunidade
Nova diretora quer incentivar a pós

da Reportagem Local

Implantar cursos de especialização em nível de pós-graduação é uma das metas da professora Ivete Senise Ferreira, 63, que assumiu ontem a direção da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo). Para ela, esse é um meio de aproximar a instituição da comunidade.
Ivete é a primeira mulher, desde a fundação da faculdade, há 170 anos, a assumir a direção da instituição, considerada uma das mais tradicionais do Brasil.
"Ainda estou na euforia que precede o trabalho sério, mas uma das coisas que tenho a pretensão de fazer é implantar cursos de especialização para pessoas que já militam na profissão", diz Ivete.
Professora da USP desde 1971 e especializada em direito criminal, Ivete encabeçou as três listas tríplices, que resultaram na ratificação de seu nome como diretora. Concorreram com ela os advogados Dalmo de Abreu Dallari e Fábio Konder Comparato, respectivamente, segundo e terceiro colocados.
As listas foram o resultado de eleições realizadas na faculdade, que envolveram docentes, alunos e funcionários. A escolha final coube ao reitor da USP, Jacques Marcovitch.
"Não esperava e nem pleiteava a direção. Estava ocupada com outras tarefas. Mas os colegas se manifestaram a favor. Não acreditava que fosse se concretizar", diz Ivete.
Para a professora a surpresa se deve ao fato de que, em geral, os diretores da São Francisco costumam ter um "posicionamento ideológico forte", o que não é o seu caso, que sempre se concentrou nas atividades acadêmicas e escolares.
Antes de se tornar diretora, a professora era diretora do Departamento de Direito Penal e ocupava cargos em diversas comissões e órgãos.
Apesar de se dizer surpresa pela indicação, Ivete afirma estar "muito contente".
"Isso mostra que pode acontecer na prática o que se pregava na teoria. Sabia que a mentalidade em relação às mulheres na faculdade havia mudado, mas pude confirmar isso na prática."
Para o advogado Dallari, a escolha de uma mulher para dirigir uma das mais renomadas faculdades de direito do país, "chegou tarde".
"A primeira bacharel em direito do Brasil se formou em 1900. Demorou demais. Espero que o caso de Ivete seja um precedente para que uma mulher se torne ministra do Supremo Tribunal Federal, o que nunca aconteceu." (MAv)



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