São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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EDUCAÇÃO

Maioria dos que realizam o Exame Nacional do Ensino Médio o fazem pela chance de usar nota em vestibular

1,8 milhão de estudantes fazem Enem hoje

Juca Varella/ Folha Imagem
Estudantes realizam e Enem no ano passado, que foi feito por cerca de 1,6 milhão de pessoas


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um custo de R$ 63,5 milhões -equivalente a 39% do orçamento anual do Programa Bolsa-Escola (R$ 162,7 milhões)- e sem ter com objetivo principal avaliar o sistema educacional brasileiro, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) realiza hoje, das 13h às 18h, sua quinta e maior edição. Cerca de 1,8 milhão de estudantes farão a prova em 600 municípios de todo o país.
O exame, de caráter voluntário, foi criado em 1998 atraindo naquele ano pouco mais de 157 mil estudantes. A partir de 2001, com a gratuidade da inscrição para os alunos da rede pública, o número pulou de 390 mil estudantes em 2000 para 1,6 milhão, e a porcentagem de alunos com renda familiar até dois salários mínimos subiu de 7,4% em 2000 para 26,8% no ano seguinte. Em 2002, 90% dos inscritos não pagaram a taxa de R$ 35.
Em 1998, a nota obtida no Enem não era largamente utilizada como parte da composição da nota final do vestibular. Este ano, 338 instituições a usarão para isso. Esse é o principal motivo alegado pelos estudantes para fazer a prova. No ano passado, 50,6% dos participantes afirmaram que fizeram a prova para se tornarem mais competitivos na disputa por uma vaga no ensino superior.
Além de ser uma forma complementar aos processos seletivos, o exame foi criado com o objetivo de ser "uma apresentação do estudante, uma referência que o mercado de trabalho poderia utilizar", segundo a coordenadora do Enem, Maria Inês Fini.
O principal objetivo da prova, segundo Maria Inês, é proporcionar uma auto-avaliação para os estudantes ao término do ensino básico (fundamental e médio). "É indispensável que ele saiba se conseguiu desenvolver as estruturas necessárias para prosseguir os estudos ou para ingressar no mercado de trabalho", disse.

Objetivo secundário
A análise das condições do sistema educacional seria apenas um objetivo secundário. Segundo especialistas, o Enem não é uma fonte ideal de dados sobre o assunto. Existem outros exames com essa finalidade, como o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Apesar disso, anualmente é produzido um relatório sobre o desempenho dos alunos na prova. "Quase a totalidade dos formandos do ensino médio fazem a prova. É impossível nós não considerarmos os resultados como sendo a produção do sistema", disse Maria Inês.
Diferentemente do Provão, que pretende analisar os cursos e instituições superiores, o Enem, por ser considerado uma avaliação individual, não gera sanções às escolas cujos alunos têm baixo desempenho na prova. Os resultados também não servem para direcionar os recursos federais para a educação. "Ensino médio é responsabilidade dos Estados. A ação, quando existe, é muito indireta", disse Maria Inês.
A intenção de que a nota do Enem possa ser aproveitada em processos de seleção no mercado de trabalho atualmente está sendo frustrada. "Por enquanto, o Enem é pouco utilizado pelo mercado como uma ferramenta de seleção", disse Sylvana Rocha, gerente educacional do Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola), instituição especializada em recrutar estagiários.
Já a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) considera o exame "obscuro". "Não houve um amplo debate com a sociedade sobre o Enem. Nós não sabemos de fato qual o papel que ele pretende cumprir. Para a maioria dos estudantes, a prova só serve como forma de aumentar a nota dos vestibulares", disse Angelo Girotto, 18, diretor de comunicação da entidade.
A utilização da nota do Enem nos vestibulares pode servir como forma complementar, mas dificilmente substituirá as provas. "O Enem avalia as habilidades e competências dos estudantes, mas não substituirá o vestibular, porque não cobra conteúdos essenciais para cursos como medicina e engenharia, por exemplo", disse Mozart Neves Ramos, reitor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior).

Competências
As chamadas habilidades e competências são o foco principal da avaliação, em detrimento do conteúdo recebido na escola. ""O objetivo é avaliar a capacidade do aluno de aplicar o conteúdo aprendido em situações mais próximas do mundo real. Assim, o Enem não exige memorização de conhecimentos específicos e enfatiza a importância da leitura", disse Cláudia Tamassia, administradora do exame do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), que tem filosofia semelhante à do Enem.
Na prova deste domingo, serão avaliadas cinco competências do aluno (domínio de linguagens, compreensão de fenômenos, enfrentamento de situações-problema, construção de argumentações e elaboração de propostas de intervenção na realidade), divididas em 21 habilidades, com três questões para cada uma.


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