São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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Educadores divergem sobre exame

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas em educação consultados pela Folha divergem sobre a importância e a eficiência do Exame Nacional do Ensino Médio. O filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) considera importante a realização de avaliações que façam diagnósticos da educação brasileira, desde que sirvam para pautar as mudanças que se façam necessárias.
Mesmo não sendo o objetivo principal da prova avaliar o sistema de ensino, ele considera que o Enem poderia ser um bom ponto de partida para essas mudanças.
"Seria interessante que o Enem não fosse usado apenas para atenuar o trauma do vestibular. Os sistemas de avaliação brasileiros hoje são como autópsias, em que se examina a situação e não se faz mais nada. É preciso que as avaliações funcionem como biópsias, em que o exame tem como finalidade manter a vida, resolver os problemas", disse ele.
Já Sônia Miriam Draibe, professora do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Unicamp, considera que "cada sistema de avaliação sozinho não é suficiente para resolver muita coisa", mas que funcionando em conjunto ajudariam a formar um indicativo importante da situação da educação brasileira.
Segundo a professora da Unicamp, os sistemas de avaliação tendem a ficar mais complexos, com aplicação de diferentes provas se complementando. "É possível dizer que nós estamos em um bom caminho nesse sentido. Acho que com o tempo podemos tornar essas avaliações mais completas", disse Miriam.
O vice-diretor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Nelio Bizzo, é o educador mais crítico em relação ao Enem. Ele considera papel das escolas, e não de um exame nacional, oferecer instrumentos aos alunos para que eles se auto-avaliem. "O que me parece é que o Ministério da Educação quer suplementar a escola, fazendo uma coisa que ela deveria fazer e não faz. Não acho bom uma prova que custa R$ 63 milhões só para dar uma idéia para o aluno se ele tem estruturas de pensamento adequada", disse ele, que também é conselheiro da câmara de ensino básico do Conselho Nacional de Educação do MEC.
Para Bizzo, o Enem seria mais eficiente se fosse acompanhado de uma programação de medidas. "Uma avaliação faz sentido para saber se as coisas estão caminhando no sentido em que você planejou. Se ela se restringe apenas à prova, pode-se chegar a que tipo de conclusões do tipo os pobres vão mal, os ricos vão bem. Isso nós já sabemos que acontece, não seria preciso gastar R$ 63 milhões para descobrir."
Outro professor da Faculdade de Educação da USP, Nilson José Machado, que participou da organização do Enem desde a sua criação até o ano passado, considera uma avaliação individual importante ao término do ensino médio. "Todo percurso educacional precisa ser avaliado ao seu final. Sem avaliação, o percurso não é completo".
Segundo ele, a avaliação feita pelo Enem tem um caráter diferente das que são realizadas nas escolas e nos vestibulares. "A grande inovação do Enem foi sua perspectiva de avaliar pessoas e suas competências."


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