São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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Pais criam núcleo contra falta de vaga

GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local

Famílias de São Paulo encontraram uma alternativa simples e barata para driblar a falta de vagas para excepcionais em escolas e instituições especializadas.
Com o auxílio de assessoria gratuita prestada pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), elas montaram núcleos de apoio onde os próprios pais atuam como orientadores.
Pais e filhos se reúnem até duas vezes por semana para desenvolver atividades em grupo. Os encontros acontecem dentro da casa de um dos integrantes ou em espaços comunitários.
Criado pela Apae, o chamado Programa Comunitário atendeu cerca de 150 famílias da capital desde 1985.
"Foi um meio-termo criado para resolver a nossa própria limitação de vagas. Os técnicos levam modelos para que as próprias famílias estimulem as crianças com atividades de socialização", afirmou Isabel Carneiro de Francischi, 44, coordenadora do Programa Comunitário da Apae.
"Muitas vezes as famílias acreditam que apenas instituições especializadas podem fazer algo e cruzam os braços", disse.
Segundo Isabel, o objetivo do programa é tirar os excepcionais de casa e colocá-los em contato com outras crianças. "Essa é uma forma de desmistificar a doença e não deixar esse grupo sem nenhum tipo de atividade." O programa funciona com 19 profissionais, entre pedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos.
Os dois núcleos que a Apae monitora atualmente ficam na zona leste da capital e atendem basicamente a famílias carentes. A maior incidência é de crianças com deficiência mental (moderada ou severa).
O grupo montado no bairro de Cangaíba usa o espaço da paróquia do bairro, onde nove famílias se reúnem por duas horas às segundas-feiras.
"Damos muitas atividades manuais. Mas também ensinamos coisas básicas para que eles se virem sozinhos", disse Maria Clara Pivato, 62. Seu filho Marcos, 31, tem deficiência metal.
"Eu o deixei em uma escola particular por dez anos e chegou um ponto em que ele parou de evoluir. Era uma época em que eu pagava e não participava de nada", disse Maria Clara. "Hoje, ele está muito melhor e fica feliz por encontrar os amigos."
A dona-de-casa Imaculada Conceição Barbosa, 58, colocou o filho Guilherme, 13, no grupo do Cangaíba no ano passado. Ela não aguentou pagar a mensalidade de uma escola especial, além de notar regressões na fala do filho, que tem síndrome de Down. "Ele voltou a evoluir e acredito que é por causa da troca entre eles."
O grupo também realiza bazares. O dinheiro é usado para financiar passeios em parques ou shopping centers.



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